Título: Ramala vive clima de adeus
Autor: Arthur Ituassu
Fonte: Jornal do Brasil, 12/11/2004, Internacional, p. A9
A notícia da morte de Yasser Arafat gerou um silêncio fúnebre na sala de conferências da Muqata, quartel-general da Autoridade Nacional Palestina (ANP) em Ramala, na Cisjordânia, e lágrimas de emoção entre os sonolentos seguranças locais.
Um pouco antes, quando ainda não eram seis da manhã (horário local), dois Mercedes negros transportando o secretário da presidência, Tayeb Abdelrahim, e o ex-ministro das Comunicações, Yasser Abed Rabbo, entraram no prédio.
Dentro do complexo, as luzes se acenderam. Nervoso, Abdelrahim segura o papel no qual está escrito o anúncio oficial da morte do dirigente e mal consegue terminar suas palavras, apoiado por Abed Rabbo, também contendo as lágrimas.
No complexo semidestruído pelos ataques israelenses, Abdelrahim faz um elogio a Arafat: ''presidente, líder e portador da bandeira palestina''.
- Arafat, que percorreu os caminhos de Jerusalém e viveu esperando transformá-la, um dia, na capital da Palestina, hoje olha para a cidade e descansa perto de Al-Aqsa, pedindo que nós continuemos o trabalho para tornar seu sonho realidade, libertá-la e fazer deste local um lugar seguro, pacífico e estável para sempre - afirmou Abdelrahim, em meio ao silêncio.
Minutos depois, a notícia se espalha por Ramala, que recebeu Arafat durante os últimos três anos, período em que permaneceu confinado pelos tanques israelenses na Muqata.
Centenas de palestinos se reúnem na entrada do quartel-general. Na Muqata, a bandeira palestina a meio pau e as escavadoras que trabalham para preparar a tumba do dirigente confirmam: Arafat não voltará.
- A notícia da morte de Arafat me provoca mais dor do que a de meu irmão, assassinado pelos israelenses - declara Mussa Jatab, de 25 anos, com o corpo enrolado em uma bandeira palestina.
Diante das portas fechadas do complexo, onde a Força 17, guarda presidencial, impede a entrada dos cidadãos, um idoso cambaleia e cai desmaiado de emoção, bem embaixo de uma imagem de Arafat sorridente e fazendo o sinal da vitória.
Minutos depois, o imã da Muqata, Jamis Abdeh, que conversava e orava com o dirigente todas as sexta-feiras, chega com um semblante sério.
Ele é seguido por um grupo de jovens mujahedines, com os rostos cobertos.
- Arafat é mais que um pai para mim. Estive com ele na Tunísia e no Líbano até chegar aqui em 1994. Nunca traiu seu povo como outros líderes árabes, ele nos ensinou a lutar - explica Amin Abbasi, que trabalha em uma empresa de investimentos do governo palestino.
Ao lado, várias mulheres choram sentadas ao chão, com as mãos elevadas ao céu e vários pôsteres do líder palestino, enquanto contemplam com indiferença a passagem de carros oficiais.
- Acreditamos até o último momento - diz uma delas.