Valor Econômico, v. 20, n. 4972, 01/04/2020. Finanças, p. C5
Bancos têm bilhões de dólares ligados a empréstimo de risco
Robert Smith
Joe Rennison
Os grandes bancos, que ajudam gestores de ativos a transformar empréstimos de risco em produtos de investimentos, encontram-se com bilhões de dólares em dívidas atreladas a empresas mais expostas a recessões econômicas.
Instituições financeiras dos dois lados do Atlântico possuem mais de cem linhas de crédito abertas para veículos conhecidos como obrigações de dívida garantidas (CLOs, na sigla em inglês), que são uma das maiores fontes de recursos para empresas que não possuem avaliações de crédito de alta qualidade, segundo apontam fontes familiarizadas com os arranjos.
Fundos como os braços de investimentos em dívida das potências do “private equity” Blackstone e Carlyle são os maiores gestores dessas CLOs, que avançaram bastante desde a última crise financeira, à medida que os emprestadores tradicionais deixaram de conceder créditos mais arriscados.
No entanto, os bancos de investimentos ainda estão expostos a esses títulos, uma vez que eles fornecem as chamadas “warehouse lines” para gestores de CLOs que os ajudam a formar carteiras de empréstimos. Tais ativos perderam muito valor neste mês por causa das dúvidas crescentes sobre a capacidade de empresas muito endividadas suportarem grandes golpes à economia.
Os efeitos no mercado de CLOs têm sido um “desastre”, segundo Chris Acito, presidente executivo da Gapstow Capital Partners, que investe nesses veículos. Entre 1ª e 20 março, as avaliações de crédito de cerca de 140 emissores com empréstimos mantidos em CLOs nos Estados Unidos foram rebaixadas ou colocadas sob observação para possível rebaixamento - uma parcela que representa cerca de 10% dos ativos totais de CLOs sob administração. “É extraordinário ver o que está acontecendo no momento”, disse Acito.
Banqueiros, investidores e advogados envolvidos nas operações com CLOs estimam que há entre 40 e 50 dessas “warehouse lines” em aberto na Europa e outras 60 ou mais nos EUA, mercado maior.
Os gestores de CLO recorrem a essas linhas para suprir lacunas antes de captarem recursos no mercado de bônus garantidos por ativos, fatiando-os em graus variados de segurança. As tranches de maior risco são atingidas primeiro se as companhias não conseguem pagar seus empréstimos.
Emprestadores “warehouse” ativos incluem grandes bancos como Citigroup e Credit Suisse, que fornecem CLOs com linhas temporárias e então mais tarde recebem comissões com a venda para investidores de empréstimos corporativos atrelados caísse acentuadamente.
“Soa como se a maioria dos gestores de CLOs tivessem prazos de vencimento relativamente longos em suas “warehouse lines”, de pelo menos outros 12 a 18 meses, e a maior parte deles não possuir gatilhos de reajuste aos preços de mercado”, diz Aza Teeuwen, gerente de portfólio da TwentyFour Asset Management.
Os bancos têm menos ferramentas à disposição quando o mercado de empréstimos se deteriora, mas este mês uma gestora de CLOs resolveu se mexer. A Ellington Management, gestora de fundos de Connecticut, colocou à venda quase €70 milhões em dívida corporativa de alto risco em meados de março, segundo investidores que foram abordados para comprar os empréstimos, enquanto ela tentava quitar uma linha “warehouse” com o Barclays.
O maior dos empréstimos de que a Ellington tentou se desfazer de sua CLO europeia foi com o NSO Group, uma controvertida empresa israelense de segurança cibernética, que vem sendo criticada por ajudar governos a “hackear” mensagens do WhatsApp. A Ellington vendeu muitos dos empréstimos mas ainda tenta refazer sua primeira CLO europeia e sua linha “warehouse” não foi liquidada, segundo duas fontes.
A Ellington formou um nicho nos EUA nas chamadas “CLOs aprimoradas”, que compram empréstimos mais arriscados do que uma CLO típica. Relatório de novembro de uma agência de avaliação de crédito disse que a “warehouse” europeia da Ellington foi garantida por mais de 20% de empréstimos altamente especulativos, classificados como “triple-C” - quase três vezes os níveis normalmente adorados pelas gestoras de CLOs. Ellington e Barclays não quiseram fazer comentários. / Financial Times