Correio Braziliense, n. 21840, 02/01/2023. Política, p. 3

Emoção ao falar sobre a fome

Luana Patriolino


Após subir a rampa do Palácio do Planalto e receber a faixa presidencial de representantes do povo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um discurso forte no Parlatório. Ele estava diante de 40 mil pessoas concentradas na Praça dos Três Poderes, mas fez questão de frisar que falava para os 215 milhões de brasileiros.

Prometeu que governará para todos, não apenas para os que votaram nele. O principal ponto do pronunciamento foi em relação à pobreza. O petista disse que vai lutar para tirar o Brasil do mapa da fome e chorou quando comentou sobre crianças e mães em situação de miséria no país.

“Há muito tempo não víamos tamanho abandono e desalento nas ruas. Mães garimpando lixo em busca de alimento para seus filhos. Famílias inteiras dormindo ao relento, enfrentando o frio, a chuva e o medo. Crianças vendendo bala ou pedindo esmola, quando deveriam estar na escola vivendo plenamente a infância a que têm direito”, afirmou, sendo amparado pela primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja.

Lula mencionou os desempregados que ficam nos semáforos exibindo “cartazes de papelão com a frase que nos envergonha a todos: ‘por favor, me ajuda’”.

“Fila na porta dos açougues, em busca de ossos para aliviar a fome. E, ao mesmo tempo, filas de espera para a compra de jatinhos particulares. Tamanho abismo social é um obstáculo à construção de uma sociedade justa e democrática, e de uma economia próspera e moderna.” Ele destacou que “a fome é filha da desigualdade, que é mãe dos grandes males que atrasam o desenvolvimento do Brasil”. “A desigualdade apequena este nosso país de dimensões continentais, ao dividi-lo em partes que não se reconhecem”, sustentou.

Lula subiu a rampa e recebeu a faixa presidencial ao som da música Amanhã, do cantor e compositor Guilherme Arantes, interpretada pela Orquestra Sinfônica de Músicos pela Democracia.

Assim como nos versos da canção, que falam sobre esperança de dias melhores, o presidente enfatizou que vai recuperar a estabilidade social, política e econômica do país.

“Vou governar para todas e todos, olhando para o nosso luminoso futuro em comum, e não pelo retrovisor de um passado de divisão e intolerância”, frisou.

O petista também relembrou momentos difíceis como quando ficou preso 580 dias em Curitiba.

“Quero começar fazendo uma saudação especial a cada um e a cada uma de vocês. Uma forma de lembrar e retribuir o carinho e a força que recebia todos os dias do povo brasileiro — representado pela Vigília Lula Livre —, num dos momentos mais difíceis da minha vida”, ressaltou.

Em contrapartida, destacou a felicidade pelo momento. “Hoje, neste que é um dos dias mais felizes da minha vida, a saudação que eu faço a vocês não poderia ser outra, tão singela e ao mesmo tempo tão cheia de significado”, afirmou. “A vocês, que vieram de todos os cantos deste país — de perto ou de muito longe, de avião, de ônibus, de carro ou na boleia de caminhão.

De moto, bicicleta e até mesmo a pé, numa verdadeira caravana da esperança, para esta festa da democracia”, acenou.

O presidente também criticou o ex-presidente Jair Bolsonaro.

“Nesses últimos anos, vivemos, sem dúvida, um dos piores períodos da nossa história.

Uma era de sombras, de incertezas e de muito sofrimento”, mencionou.

“Mas esse pesadelo chegou ao fim, pelo voto soberano, na eleição mais importante desde a redemocratização do país.” (Leia nesta página os principais trechos do discurso)