Correio Braziliense, n. 21841, 03/01/2023. Política, p. 3

Novo nome da Funai terá povos indígenas



Reivindicação histórica das nações originárias, a Fundação Nacional do Índio (Funai) tem nova denominação. Passará a se chamar de Fundação Nacional dos Povos Indígenas, embora a sigla não se altere. A mudança, feita por meio de medida provisória publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 1º de janeiro, foi uma reivindicação do Grupo Técnico Povos Indígenas do governo de transição.

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) ressaltou — que tem entre suas lideranças a ministra dos Povos Originários, Sonia Guajajara — festejou a alteração do nome pelas redes sociais, uma reivindicação histórica dos indigenistas e das nações. Segundo eles, o termo “índio” é preconceituoso, impreciso e generaliza as mais de 300 etnias que existem no Brasil.

A deputada federal Joenia Wapichana (Rede-RR) esteve, ontem, na sede da Funai, onde foi homenageada por servidores e delegações de etnias. Primeira representante dos povos originários a dirigir a autarquia em 56 anos de existência, ela presenciou vários rituais de “purificação” das instalações.

“É um momento histórico para os povos indígenas do Brasil, que, depois de tanta afronta, retrocesso e tendo o único órgão indigenista totalmente sucateado, desmantelado, hoje, retomar a Funai. Uma Funai que é nossa”, publicou Joenia nas redes sociais.

O ritual de purificação contou com a presença do cacique Raoni Metuktire, uma das principais lideranças indígenas do país — e que subiu a rampa do Palácio do Planalto na posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no domingo. Também participou o secretário de Saúde Indígena, Weibe Tapeba, empossado ontem pela ministra da Saúde, Nísia Trindade.

Ao festejar a mudança da denominação da Funai, a Apib também criticou o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem acusa de omissão contra invasão de territórios protegidos por garimpeiros e apoio à mineração ilegal. “O descaso do governo Bolsonaro com a implementação de políticas indígenas, garantidas na Constituição Federal, é gigante e nós temos um longo caminho a percorrer. Dividimos o relatório em 10 pontos que tratam destes desmontes, mas também apresentam sugestões de revogações, emergências orçamentárias, pontos de alerta e uma estrutura organizacional do Ministério dos Povos Indígenas. Mais do nunca estamos prontos para reconstruir o Brasil e pautar o futuro indígena!”, diz Kleber Karipuna, coordenador executivo do grupo de trabalho na transição e da Apib.

Até o último dia 29, a Funai era presidida por Marcelo Xavier, delegado da Polícia Federal, considerado um desafeto por indigenistas e indígenas. Além disso, ele foi acusado de ter afastado da função Bruno Araújo Pereira — assassinado com o jornalista Dom Phillips e junho passado, no Vale do Javari (AM), devido à ação ao lado dos povos locais contra a exploração da pesca e a extração ilegal de madeira —, considera um dos maiores indigenistas da sua geração. (MP com Fabio Grecchi)