Correio Braziliense, n. 21841, 03/01/2023. Política, p. 5

De volta ao palco do mundo



Ao tomar posse na noite de ontem, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, frisou o retorno do Brasil ao cenário internacional. A solenidade ocorreu no segundo andar do Palácio do Itamaraty, com a presença de diplomatas e autoridades. Em seu primeiro discurso no cargo, o chanceler destacou o papel do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na nova política externa, além de marcar a importância que o tema ambiental terá no novo governo, que pretende tornar o Brasil referência no tema.

“Atravessamos um momento certamente dos mais conturbados no cenário internacional. Teremos de saber operar nesse ambiente, com uma crise de governança global sem precedentes”, declarou Vieira. “A boa notícia, como indica o presidente Lula, é que o Brasil está de volta”, complementou.

O chanceler marcou, em seu discurso, a importância de Lula no trato com os países estrangeiros, para “reconstruir o patrimônio diplomático brasileiro”. O presidente passou o dia dentro do Itamaraty, em reunião com 15 representantes e chefes de Estado que vieram acompanhar sua posse no domingo.

Com a presença de Marina Silva na solenidade, que chefiará o Meio Ambiente, Vieira fez fortes acenos para a incorporação de uma política ambiental nas relações exteriores. Ele anunciou que o Itamaraty voltará a ter uma secretaria dedicada ao tema, que foi extinta durante o governo de Jair Bolsonaro. No entendimento do novo chanceler, é preciso seguir os padrões internacionais de conservação para, inclusive, garantir novos investimentos.

O Brasil terá, disse Vieira, uma “diplomacia climática ativa” e reconheceu que o mundo vive uma mudança no clima “que coloca em perigo o futuro do planeta”. “Só seremos fortes se atuarmos como país comprometido com o desenvolvimento sustentável”, complementou, citando que o Brasil já é candidato para sediar a COP30 em 2025, a conferência do clima das Nações Unidas. “O Brasil tem todas as condições de se consolidar como um modelo de transição energética e economia de baixo carbono”, acrescentou. Ele também pretende organizar uma cúpula dos países que abarcam a Floresta Amazônica no seu território.

“Longe do ideal”

O ex-ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto França, discursou no início da cerimônia para transferir o cargo. Ele foi um dos únicos ministros do ex-presidente Jair Bolsonaro a participar das cerimônias de posse até o momento, elogiando, inclusive, seu sucessor. “Profissional experiente e respeitado dentro das paredes deste palácio e fora delas”, declarou sobre Mauro Vieira. França ocupou por 20 meses o cargo de chanceler.

Em seu discurso, ele também fez a prestação de contas de sua gestão. França citou a urgência sanitária, com a pandemia da covid-19, a urgência econômica, e a urgência climática. Segundo o ex-ministro, a situação externa para o governo passado estava “longe do ideal”. Ele também defendeu a compra de vacinas contra a covid-19, mesmo com as pesadas críticas de autoridades da Saúde ao modo como Bolsonaro lidou com a crise.