O Globo, n. 32561, 30/09/2022. Mundo, p. 23

América Latina concentra 75% das mortes de ambientalistas



Os assassinatos de ambientalistas registraram queda em 2021 na comparação com o ano anterior, mas a América Latina continua concentrando mais de 75% dos crimes, com o México na liderança dos países com mais vítimas, afirma o relatório anual da ONG Global Witness. Colômbia e Brasil ficaram em segundo e terceiro lugar, respectivamente.
No ano passado, 200 ativistas foram assassinados no mundo, abaixo do recorde de 2020, com 227 mortes em um contexto de "uma gama mais ampla de ameaças" contra os ambientalistas, alvos de governos, empresas e outros atores não estatais, segundo o documento.

México, Colômbia e Brasil contabilizaram mais da metade dos ataques contra ambientalistas no ano passado, de acordo com a ONG. O México foi o país com maior número de mortes: 54 em 2021, 30 a mais que no ano anterior. Já a Colômbia registrou 33 assassinatos no ano passado, uma queda expressiva na comparação com as 65 mortes de 2020. O Brasil, por sua vez, registrou 26 assassinatos de ambientalistas em 2021, seis a mais que em 2020.

Em junho deste ano, o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Philips foram assassinados no Vale do Javari, na Amazônia, um crime que chocou o mundo.

No México, segundo o documento, mais de 40% dos assassinados eram indígenas e mais de um terço do total foram desaparecimentos forçados, incluindo pelo menos oito membros da comunidade yaqui, no Norte do país.

O ano de 2021 é o terceiro consecutivo que a Global Witness registra um aumento de agressões letais no México. "Quase dois terços dos assassinatos foram concentrados nos estados de Oaxaca (sul) e Sonora (norte), ambos com importantes investimentos de mineração", destaca a organização.

Nos últimos 10 anos, o México virou "um dos lugares mais perigosos para os defensores da terra e do meio ambiente", com 154 assassinatos documentados durante o período, alerta a Global Witness. A maioria das mortes ocorreu entre 2017 e 2021. O número, no entanto, pode ser maior porque os motivos dos ataques contra ambientalistas muitas vezes não são investigados ou relatados da maneira adequada.

Indígenas e mulheres

Dos crimes que foram relacionados a um setor específico, a organização indica que mais de 25% estavam vinculados à exploração de recursos (florestais, de mineração ou agronegócio), além de hidrelétricas e outras obras de infraestrutura.

A mineração foi o setor mais vinculado com os assassinatos de 2021, com 27 casos — 15 deles no México, seis nas Filipinas, quatro na Venezuela, um na Nicarágua e um no Equador, segundo a Global Witness.

A ONG também alertou para o "número desproporcional de ataques contra povos indígenas", com mais de 40% do total direcionados a este grupo, apesar de ele representar apenas 5% da população mundial.

A Global Witness registrou 12 assassinatos em massa em 2021, incluindo três na Índia e quatro no México, e destacou que um em cada 10 ativistas mortos era mulher, quase dois terços delas indígenas.

A organização recomenda "ações urgentes" dos governos e empresas para interromper a violência e criminalização dos ativistas, como a adoção de leis que os protejam e a ampliação de seus direitos, além da implementação de políticas corporativas que "identifiquem, previnam e mitiguem" qualquer dano contra estas pessoas e os espaços que defendem.