Valor Econômico, v. 20, n. 4973, 02/04/2020. Brasil, p. A7

China cancela entrega, e Mandetta reitera isolamento

Murillo Camarotto
Rafael Bitencourt 



Um dia após tentar projetar um cenário de maior tranquilidade ao país, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, teve que recuar e fez ontem repetidos alertas sobre a possibilidade de desabastecimento de equipamentos médico-hospitalares nas próximas semanas. De acordo com ele, grande parte das compras anunciadas na véspera foi cancelada por  fornecedores chineses, o que reforça mais a importância das medidas de distanciamento social no país.

Segundo o ministro, dos 200 milhões de itens que foram anunciados, apenas 10 milhões já estão garantidos. Todas as demais encomendas, que já estavam assinadas, foram simplesmente canceladas pelos fabricantes, que alegaram “equívocos” sobre a capacidade de entrega no momento do fechamento dos negócios. Mandetta citou, no entanto, a concorrência dos Estados Unidos, que teriam enviado 23 aviões cargueiros para buscar equipamentos na China.

“Hoje estamos muito preocupados com a regularização dos estoques de equipamentos”, afirmou o ministro. “Está havendo uma quebra entre o que você assina e o que recebe. Por isso, eu só acredito quando estiver dentro do país.” Ele garantiu que no momento todas das regiões estão abastecidas, mas que o cenário para as próximas semanas é incerto.  Por isso, Mandetta insistiu que o país sofrerá com a falta de material em breve se as medidas de isolamento e quarentena forem relaxadas neste momento.

O Ministério da Saúde informou ontem que o Brasil tem agora 241 mortos pelo novo coronavírus - 40 mais que no dia anterior. É o maior número de baixas em um único dia desde o início do surto. O número de casos confirmados cresceu 20% nas últimas 24 horas, atingindo 6.836 diagnósticos positivos. Mandetta lembrou que os casos devem subir ainda mais nas próximas semanas, devido ao avanço na realização de testes.

O Estado com maior número de registros continua sendo São Paulo, com 2.981 casos. Em seguida, estão Rio de Janeiro (832), Ceará (444) e Distrito Federal (355). “É onde há maior chance de termos grandes espirais de casos”, disse o ministro. Mandetta lembrou que há pelo menos 200 óbitos pendentes de confirmação de covid-19 somente em São Paulo, o que deverá representar um salto importante nas estatísticas de vítimas fatais da doença.