Valor Econômico, v. 20, n. 4973, 02/04/2020. Brasil, p. A7

G-20 está se alinhando a Bolsonaro, diz chanceler

Murillo Camarotto
Isadora Peron



O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse ontem que alguns ministros de países-membros do G-20 têm demonstrado convergência com a linha defendida pelo presidente Jair Bolsonaro sobre a importância de manutenção dos empregos durante a pandemia do coronavírus. “Há preocupação com a saúde e o emprego, na mesma linha que o presidente coloca”, afirmou o chanceler brasileiro.

Sem citar nominalmente nenhum desses ministros, Araújo fez elogios à atuação do G-20 durante o surto. Segundo ele, o grupo que reúne grandes economias globais “funcionou muito bem” na crise financeira de 2008 e agora dá sinais de que será novamente eficiente nas medidas de recuperação da economia.

Durante coletiva de imprensa ao lado de outros ministros, o chanceler também falou sobre a conversa telefônica entre Bolsonaro e o presidente americano, Donald Trump, ocorrida na manhã de ontem. Araújo disse que os dois líderes não trataram de assuntos referentes a medidas de afastamento social nem de eventuais restrições à entrada de brasileiros nos Estados Unidos.

Em uma entrevista concedida na segunda-feira na Casa Branca, Trump foi questionado sobre as declarações de Bolsonaro em relação à pandemia e em seguida cogitou a possibilidade de incluir o Brasil em uma lista de países que teriam a entrada dos seus cidadãos nos Estados Unidos temporariamente vetada.

Segundo Araújo, a conversa tratou da disponibilidade de cooperação entre os dois países “nesse momento difícil”. “O telefonema foi conversa de dois presidentes que são parceiros muito próximos. Queriam trocar planejamento nesse momento no enfrentamento dessa situação de pandemia”, resumiu o ministro.

O Itamaraty ainda está trabalhando no resgate de brasileiros que estão no exterior e não conseguem retornar. Segundo o ministro, ainda há cerca de 5,8 mil cidadãos em países como Portugal, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia. Mais de 10 mil pessoas já teriam retornado ao Brasil com auxílio do governo.

Araújo explicou que o maior contingente está em Portugal e que a expectativa é que quase todos consigam voltar nos próximos três dias em voos comerciais. Nos casos da Austrália e da Nova Zelândia, é provável que sejam usados voos fretados, devido a restrições na malha comercial. (Colaborou Fabio Murakawa)