Título: Lula culpa mediocridade
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Fonte: Jornal do Brasil, 26/11/2005, País, p. A3
A menos de uma semana da divulgação do PIB (Produto Interno Bruto) no terceiro trimestre, cuja estimativa é de desempenho pífio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva culpou a ''mediocridade política do Brasil'' pela falta de crescimento. Em uma solenidade em Fortaleza para anunciar recursos para grandes obras no Nordeste, o presidente defendeu investimentos prioritários em regiões mais pobres. Para Lula, devido à ''mediocridade'', boa parte da classe política ''não consegue pensar no país nem um minuto depois do seu mandato''.
- Acho que essas coisas não acontecem no Brasil, e quero pedir desculpas se alguém se sentir ofendido, pela mediocridade política do Brasil. Pela mediocridade de uma classe política, em que uma boa parte dela não consegue pensar no país nem um minuto depois do seu mandato, só pensa nos seus quatro anos, pensando numa reeleição - afirmou.
Nesta semana, Lula chegou a admitir que já era candidato à reeleição, mas logo em seguida negou e disse que cometera um lapso. Ontem, em discurso improvisado, que demorou 48 minutos, ele usou uma metáfora ao falar na hipótese de não continuar no governo.
- Quando a gente planta uma árvore, necessariamente não temos que chupar o fruto daquela árvore. Outros que virão depois poderão ser os beneficiários. Mas nós tivemos a coragem de plantar, mesmo sabendo que não íamos chupar o fruto daquela árvore - disse.
Lula esteve na sede do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), para anunciar investimentos no Metrofor (o metrô de Fortaleza, cujas obras estão paradas), na construção de uma siderúrgica no Ceará e na ferrovia Transnordestina, que prevê custos de R$ 4,5 bilhões.
O presidente disse que o país vive boa fase, com crescimento econômico e no número de empregos, mas que, mesmo assim, há sempre os que torcem pelo fracasso, pelo ''mau agouro'':
- O Brasil é fantasticamente engraçado, não sei se é no Brasil ou no mundo inteiro, mas aquele que perde uma eleição fica torcendo para que o eleito não faça nada que dê certo.
Lula foi recebido, por cerca de 1.500 pessoas, com gritos de ''Brasil, urgente, Lula novamente''.
Coube ao ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) fazer a defesa do governo de que não há divergências internas insanáveis entre ministros.
- O que tem é uma discussão de gente boa, séria, patriota, que quer melhorar as coisas. O presidente Lula participa e estimula a discussões, porque é assim que um governante democrata deve fazer, e decide. Uma vez decidido, cada um que tem suas diferenças bota a viola no saco, a minha vive no saco quase todo dia, e nós tocamos a ferramenta para frente.
Ciro referia-se à recente troca de críticas entre a ministra Dilma Roussef (Casa Civil), que estava no evento, e Antonio Palocci (Fazenda), sobre a condução da política econômica. Para ele, é um privilégio trabalhar ao lado de Dilma, a quem chamou de ''xerifa''.
Lula também tocou no assunto, mas ao falar sobre as disputas políticas entre o Senado e a Câmara.
- Quando vocês virem essas brigas, não se assustem. É melhor assim do que no tempo do regime militar, que a gente não tinha essas coisas. Isso é um aprendizado - disse.
Ciro fez referências ao ''esforço pessoal'' do presidente, ao ''seu empenho'', à ''sua insistência'' ao governar. Lula retribuiu os elogios e disse que quis homenagear Ciro com as obras da Transnordestina e do Projeto São Francisco.
- Numa homenagem ao fato do Ciro Gomes ter sido meu concorrente, eu tê-lo chamado para participar do governo e ele ter aceito, dei as duas obras que são duas paixões na minha vida para ele fazer.