O Globo, n. 32502, 02/08/2022. Política, p. 6

Fux defende urna eletrônica e ''tolerância'' nas eleições

André de Souza
Mariana Muniz


Na volta dos trabalhos do Judiciário após o recesso de julho, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux, elogiou ontem o sistema eleitoral brasileiro e disse esperar que as eleições deste ano transcorram em paz e com tolerância. O ministro da Corte Edson Fachin, que também preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), enfatizou que quem desqualifica a segurança das urnas eletrônicas “tem um único objetivo: tirar dos brasileiros a certeza de que seu voto é válido e sua vontade foi respeitada”. Os magistrados não citaram nomes, mas o principal crítico da votação eletrônica tem sido o presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, que já fez vários ataques sem provas contra a segurança dos equipamentos.

Sete de setembro

Ainda segundo Fachin, “quem vocifera não aceitar resultado diverso da vitória não está defendendo a auditoria das urnas eletrônicas e do processo de votação”, mas “está defendendo apenas o interesse próprio de não ser responsabilizado”:

— Pelas inerentes condutas ou pela inaptidão de ser votado pela maioria da população brasileira.

Fux deixará a presidência do STF no mês que vem, em meio às tensões sobre o Sete de Setembro, quando deverá haver manifestações favoráveis a Bolsonaro.

— Daqui a dois meses, a população brasileira vivenciará um dos momentos mais sensíveis de um regime democrático, qual seja, as eleições, nas quais se externa o exercício do direito-dever inalienável de cada cidadão, que se consubstancia no voto popular. Felizmente, nossa democracia conta com um dos sistemas eleitorais mais eficientes, confiáveis e modernos de todo o mundo, mercê de ostentar no seu organismo uma Justiça Eleitoral transparente, compreensível, e aberta a todos aqueles que desejam contribuir positivamente para a lisura do prélio eleitoral — disse Fux na primeira sessão do plenário no segundo semestre do ano.

Ele disse que, apesar das diferenças, há “um só povo e um só país”, e pregou civilidade, respeito e diálogo. Fux destacou que “adversários não são inimigos”.

— O STF anseia que todos os candidatos aos cargos eletivos respeitem os seus adversários, que não são seus inimigos, confiando na civilidade dos debates e, principalmente, na paz que nos permita encerrar o ciclo de 2022 sem incidentes — concluiu Fux.

Aras “atento”

Presente à reabertura dos trabalhos no TSE, o procurador geral da República, Augusto Aras, prometeu ter uma postura diligente contra ataques à democracia e às instituições nas eleições, fazendo referência específica ao Sete de Setembro, quando Bolsonaro convocou militantes a aproveitar a parada militar para se manifestar a seu favor.

— Neste ano, temos nos dedicado a esse mister de forma especial. Seja no 7 de setembro, quando celebraremos o bicentenário da nossa República, seja no transcorrer do processo eleitoral já em curso. Estamos vigilantes e, repito, atuando na defesa da nossa democracia e de nossas instituições — ressaltou Aras.