Correio Braziliense, n. 21842, 04/01/2023. Política, p. 9
“Brasil adoeceu”, diz Barroso
Luana Patriolino
Hostilizado enquanto passava em um guichê no Aeroporto de Miami, nos Estados Unidos, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso divulgou ontem uma nota oficial sobre o ataque dos manifestantes extremistas. O magistrado destacou o perigo do discurso de ódio que se instalou no país nos últimos anos e disse que “o Brasil adoeceu”.
Em vídeos que circulam nas redes sociais, é possível ouvir as pessoas gritando “sai do voo” e vaiando o ministro. Ele não reagiu às provocações, conforme mostram as imagens, porém, se manifestou oficialmente. “É uma mistura de ódio, ignorância, espírito antidemocrático e falta de educação. O Brasil adoeceu. Espero que consigamos curá-lo e que uma luz espiritual ilumine essas pessoas”, disse no comunicado sobre o episódio.
É possível ouvir, em outras gravações, Barroso sendo chamado de “ladrão” e “sem vergonha”. Agentes policiais foram até o local para controlar a situação. Essa não é a primeira vez que o ministro é atacado por bolsonaristas. Em novembro, ele foi abordado por um apoiador do ex-presidente enquanto caminhava em Nova York. Na ocasião, ele respondeu ao homem: “Perdeu, mané. Não amola”. A frase foi em referência a derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas urnas para Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O manifestante não aceitava o resultado das eleições.
Outro ato de descontrole dos manifestantes do ex-presidente, em novembro, também ganhou repercussão. Barroso precisou da ajuda da Polícia Militar, após ser hostilizado na cidade de Porto Belo, litoral de Santa Catarina, enquanto jantava com amigos. Na ocasião, em nota, o gabinete do magistrado disse que ele preferiu se retirar, pois a “manifestação ameaçava fugir ao controle e tornar-se violenta”.
Investigação
O ministro da Justiça, Flávio Dino, se manifestou sobre o caso. Nas redes sociais, ele disse que enviaria um documento à presidente do STF, ministra Rosa Weber, colocando a Polícia Federal à disposição para investigar os episódios de agressão e ameaças aos ministros.
“Vou enviar ofício à presidente do STF frisando que a Polícia Federal está à disposição para investigar os episódios de agressão e ameaças a ministros daquele tribunal e de outros. São extremistas antidemocráticos, que perseguem magistrados nas ruas, aeroportos, restaurantes etc”, escreveu via Twitter.
Dino reiterou a posição na tarde de ontem. “Frisando que, no caso de crimes chamados de ação privada, ou seja, crimes contra a honra, por exemplo, a Polícia Federal, como polícia judiciária da União está à disposição para proceder aos inquéritos policiais necessários de acordo com a manifestação de interesse da vítima, porque isso é imprescindível tecnicamente falando”, disse, em entrevista ao portal UOL.
O chefe da pasta disse que vai trabalhar para acabar com as agressões.”Precisamos pôr fim ao vale tudo porque a pessoa está em espaço público. Se você não gosta de determinado agente público, não é obrigado a sorrir e aplaudir, mas não pode agredir. Não teremos um Ministério da Justiça ou Polícia Federal cúmplice de criminoso”, frisou Dino.
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