Título: De mãos atadas
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 26/11/2005, Internacional, p. A12
Apesar das preocupações mundiais, o Irã segue com seu programa nuclear e as diplomacias americana e européia não conseguem fazer nada para pará-lo. Encarando a agressividade das negociações iranianas, os poderes ocidentais apenas tateiam o problema, tacitamente reconhecendo que lhes falta o apoio da China, da Rússia e de outras nações importantes para impor qualquer punição imediata contra Teerã, afirmam analistas.
Mas com as crescentes suspeitas de que o programa nuclear tem fins não só energéticos, mas bélicos, uma diplomacia mais hábil é necessária para conter um país encravado em uma região já revoltada com a guerra no Iraque.
- É um erro fazer ameaças sem mostrar credibilidade - defende Paul Ingram, analista do Conselho Britânico-Americano de Informação de Segurança, referindo-se aos avisos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha de que vão levar o Irã ao Conselho de Segurança da ONU a não ser que abandone suas atividades nucleares. - Não há um acordo prévio com os russos e os chineses que torne essa possibilidade crível.
A denúncia de que Teerã se prepara para enriquecer urânio também na usina de Natanz coloca um novo desafio às potências ocidentais.
- Na nossa avaliação, a opção de levar o Irã ao Conselho de Segurança não é séria - desafia o mais alto negociador nuclear iraniano com a Agência Internacional de Energia Atômica, Ali Larijani. - Em uma atmosfera de diálogo não deve existir ameaça, porque ela pode se tornar recíproca.
- Um jogador tem que olhar para as cartas em sua mão - concorda Dana Allin, pesquisadora do Instituto Internacional para Estudos Estratégicos, em Londres. - Rússia e China são o fiel da balança.
A via militar para a solução de problemas também deve ser cautelosamente analisada, sustenta Allin:
- É difícil imaginar um bom sentido estratégico por trás de uma guerra ao Irã. A região já está tumultuada demais.