Título: País tem instruções para fazer bomba
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Fonte: Jornal do Brasil, 26/11/2005, Internacional, p. A12
O embaixador da Grã-Bretanha na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Peter Jenkins, denunciou que documentos recentemente descobertos no Irã são um ''mapa'' para a criação de armas nucleares e alertou para ''indícios de armamento'' da nação persa.
Os documentos foram entregues a inspetores da ONU, segundo um relatório do chefe da AIEA, Mohamed El Baradei, e repassados aos embaixadores em reunião que durou uma semana e terminou ontem. Um dos textos é de autoria do físico paquistanês Abdul Qadeer Khan, e mostra como ''moldar e manejar urânio natural enriquecido e esgotado em formas hemisféricas''. Jenkins, falando em nome da União Européia na reunião da AIEA, não deixou espaço para ambiguidades:
- O Irã tem um documento que descreve um processo que não tem outro propósito senão a produção de armas nucleares.
Para especialistas, as instruções se referem à manufatura do núcleo da ogiva do míssil, onde fica a carga explosiva.
- Ninguém tenta moldar urânio em forma hemisférica para outros propósitos - concordou um alto funcionário do governo de Londres.
Outro documento, também entregue à AIEA por um ''alto funcionário do Ministério de Relações Exteriores iraniano'', denuncia que Teerã se prepara para começar a enriquecer urânio no subterrâneo da usina nuclear de Natanz.
O enriquecimento é a etapa mais sensível do ciclo energético nuclear. Pode ser usado como combustível para as usinas ou, conforme temem os países da União Européia e os Estados Unidos, para alimentar uma bomba atômica.
- Acho que eles farão isso em breve. A questão é quando - afirmou outro diplomata europeu.
Tentando amenizar a tensão, a Rússia propôs que o Irã desenvolva as atividades menos sensíveis do ciclo em seu próprio território e transfira o enriquecimento de urânio à Rússia, como parte de uma sociedade entre ambos os países.
No entanto, mesmo com as fortes evidências contra o regime de Mahmoud Ahmadinejad, os países-membros do Conselho de Governadores da AIEA preferiram ontem em estudar a proposta da Rússia, em vez de denunciar logo o Irã ao Conselho de Segurança da ONU, para possíveis sanções.
- O tempo está se esgotando - desafiou Jenkins, pedindo que Teerã ''considere as idéias russas com seriedade''.
Por sua vez, advertiu que Londres ''se reserva o direito de convocar uma reunião urgente do Conselho até a próxima assembléia regular'', prevista para a segunda semana de março.
O segundo relatório revela ainda que em 24 de outubro, o secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional, Ali Larijani, convocou uma reunião de emergência dos antigos e atuais membros da equipe de negociação nuclear iraniana.
''Uma das questões principais levantadas no encontro foi a data para ativar a centrífuga nuclear em Natanz'', afirma o texto. Não consta, entretanto, quando o enriquecimento de urânio vai começar. Os participantes também discutiram as medidas necessárias antes de colocar o aparato em funcionamento e o que fazer quando a notícia viesse a público.
- Eles não vão fazer segredo. Vão acionar a centrífuga abertamente, como fizeram com Isfahan - contou o diplomata.
Os EUA e outras nações ocidentais acreditam que Natanz é, na verdade, uma fachada para um projeto de armas nucleares. Teerã, todavia, defende que a planta serve apenas para a produção de energia e que este programa não é negociável, embora tenha admitido que vai estudar a proposta russa.
Em Teerã, o influente clérigo Akbar Hashemi Rafsanjani disse que a decisão da agência da ONU é ''um passo na direção certa''. Mas advertiu:
- Há alguns pontos na comunicação que denunciam um pouco de coação. Nunca vamos aceitar ser coagidos e não vale a pena para vocês, ocidentais, mexer com a gente.