O Globo, n. 32505, 05/08/2022. Política, p. 10

Podemos decide apoiar candidatura de Tebet

Bianca Gomes
Gustavo Schmitt


Candidata do MDB ao Palácio do Planalto, a senadora Simone Tebet (MS) recebeu o apoio do Podemos à sua chapa presidencial. A costura do acordo envolveu o apoio do MDB e da Federação PSDB-Cidadania à reeleição do senador Alvaro Dias (Podemos), no Paraná. Dias, que chegou a ter cogitada uma candidatura presidencial, terá de enfrentar um antigo aliado na disputa ao Senado, o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil).

O acordo foi selado numa reunião em São Paulo com a presidente da sigla, Renata Abreu, além de Tebet, o presidente do MDB, Baleia Rossi, e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes. Na semana passada, em aceno à sigla chefiada por Renata Abreu, a Executiva do MDB aprovou a coligação com PSDB e Cidadania, deixando em aberta a possibilidade de mais partidos se somarem à campanha. O movimento intensificou um flerte que já vinha ocorrendo. Agora, a composição da presidenciável será formada por MDB, Podemos, PSDB e Cidadania. Com isso, seu tempo de TV na propaganda eleitoral será de cerca de 2 minutos.

O Podemos, que já teve Moro como pré-candidato, também chegou a ser sondado pelo União Brasil, cuja candidata é a senadora Soraya Thronicke (MT). As tratativas, porém, não avançaram. O principal entrave foi Dias, que se recusou a fazer aliança com o partido de Moro. No Paraná, o diretório emedebista apoia a reeleição de Ratinho Jr (PSD), que deve ter Moro em sua chapa ao Senado. Com isso, o MDB manterá apenas o apoio ao governador.

A aliança também terá impacto no palanque de Tebet em São Paulo, e o Podemos deve ficar com a suplência do candidato ao Senado e ex-secretário municipal de Saúde Edson Aparecido. Ele será o nome do MDB na chapa do governador Rodrigo Garcia (PSDB) à reeleição. Nas últimas semanas, a ausência de Garcia nas agendas de Tebet tem chamado a atenção — ele não esteve no anúncio da vice da aliada ao  Palácio do Planalto na última terça-feira, na sede do diretório tucano. Até agora, o governador tem procurado se desvencilhar da eleição nacional e de Tebet, ainda que procure fazer gestos sutis na direção do eleitorado bolsonarista. A definição da chapa de Garcia estremeceu a relação com o MDB e com aliados da senadora, já que a sigla acabou preterida da vice em benefício de Geninho Zuliani, deputado federal pelo União Brasil.

Ontem, Tebet esteve ao lado da sua vice e senadora tucana Mara Gabrilli na capital paulista, sem que houvesse qualquer aliado do governador por perto. O palanque de Garcia deve ser dividido entre a emedebista e a também senadora Soraya.

Ainda assim, a candidatura de Soraya preocupa o entorno de Tebet por ameaçar o ineditismo de uma chapa feminina nas eleições. Aliados da emedebista atribuem a candidatura de Soraya a um movimento do ex-presidente Lula para enfraquecer Tebet. Lula tentou negociar o apoio do União Brasil à sua candidatura ainda no primeiro turno. O presidente da sigla, Luciano Bivar, era favorável, mas a aliança foi rechaçada pela ala ligada ao ex-prefeito de Salvador ACM Neto, que concorre ao governo da Bahia.

Com praticamente nenhum palanque exclusivo, Tebet corre contra o tempo para atrair mais apoios para sua chapa. Ontem, ela voltou a fazer gestos na direção do presidenciável Ciro Gomes, do PDT, e disse que os dois devem se encontrar para um cafezinho. Segundo a senadora, a maior dificuldade de uma composição é a diferença de visão econômica de ambos.