Correio Braziliense, n. 21844, 06/01/2023. Política, p. 3

Hacker invade CNJ e ironiza Moraes

Andrade Tainá


A Polícia Federal investiga se os sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) foram alvo de ataque hacker. A apuração ocorre após a emissão de um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), assinado por ele próprio. O documento pirata foi inserido no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP) e registrado na noite de quarta-feira. Há a suspeita de que houve o uso indevido de uma credencial de acesso ao site, cujo login foi bloqueado.

O documento foi retirado do Banco de Mandados. A Corregedoria Nacional de Justiça também abriu um processo, a pedido do ministro Luís Felipe Salomão, para investigar o episódio pois o setor considera que o documento foi gerado dentro do sistema BNMP. Isso que pode “indicar possível participação de servidores do Poder Judiciário”.

“Nada obstante o documento revele conteúdo ideologicamente falso, trata-se de fato que atenta contra a autoridade de ministro da Corte Suprema, além da possível violação das barreiras de segurança de relevante sistema informático do Poder Judiciário, auxiliar das autoridades judiciárias da justiça criminal na gestão da expedição dos mandados de prisão e dos alvarás de soltura em todo o território nacional”, descreve o pedido de providências assinado por Salomão.

Segundo o CNJ, “o caso já se encontra sob investigação oficial das autoridades responsáveis. Cautelarmente, e como medida de segurança, haverá restrição de acessos à plataforma, embora esteja preservada a integridade das demais informações que foram, regularmente, produzidas dentro do sistema”. Depois de retirado do ar para perícias, o BNMP voltou a funcionar no começo da tarde de ontem.

Ataques

O Correio teve acesso ao documento pirata, que é repleto de ironias e ofensas. Faz referência a Moraes como “deus do olimpo” e como o “Estado somente eu”. “Sem me explicar, porque eu sou como um deus olimpo, defino liminarmente a petição inicial, tanto em razão da minha vontade (o Estado somente eu) como pela vontade extraordinária de ver Lula continuar na Presidência, o povo conforme tenho reiteradamente ignorado, continuará atuando com competência e transparência, honrando sua histórica vocação de concretizar a democracia e a autêntica coragem para lutar contra todas as forças que não acreditam no Estado Democrático de Direito”, diz um trecho do mandado falso.

Em outra parte, alega que o TSE tem sido usado para “satisfação de interesses pessoais antidemocráticos e atentatórios ao Estado de Direito à Justiça Eleitoral e a soberania da vontade popular de 156.454.011 (cento e cinquenta e seus milhões, quatrocentos e cinquenta e quatro mil e onze) eleitoras e eleitores aptos a votar”.

Prossegue o mandado pirata. “Determino, por fim, a extração integral de cópias e sua imediata remessa para o Inquérito nº 4.874/DF e de todos os inquéritos de censura e perseguição política, em curso no Supremo Tribunal Federal para o CNJ, a fim de que me punam exemplarmente. Diante de todo o exposto, expeça-se o competente mandado de prisão em desfavor de mim mesmo, Alexandre de Moraes. Publique-se, intime-se e faz o L”.

O falso documento ainda “determina” a aplicação de uma multa a Moraes no valor de R$ 22.991.544, valor que remete à punição financeira de R$ 22,9 milhões aplicada por Moraes ao PL — partido do ex-presidente Jair Bolsonaro — por litigância de má-fé ao apresentar supostas auditorias nas urnas eletrônicas sem apontar elementos que indiquem fraude, além de pedir a anulação dos votos depositados no aparelhos usados na eleição fabricados antes de 2020. Além disso, o falso mandado pede o bloqueio dos bens do ministro e de sua família até o “pagamento”. (Com Agência Estado)

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