O Globo, n. 32507, 07/08/2022. Política, p. 10

Eleitores jovens que votarão pela primeira vez confiam nas urnas

Bianca Gomes


Jovens de 16 a 18 anos que vão votar pela primeira vez este ano confiam nas urnas eletrônicas e não acreditam na possibilidade de uma tentativa de golpe por parte do presidente Jair Bolsonaro (PL). É o que mostra pesquisa qualitativa encomendada pela Fundação Tide Setubal e obtida com exclusividade pelo GLOBO. Segundo o levantamento, a confiança na tecnologia utilizada no processo eleitoral não está associada à intenção de voto — ou seja, também é uma realidade entre eleitores de Bolsonaro, apesar dos diversos ataques do presidente às urnas e ao processo eleitoral. Os dados vão ao encontro de um levantamento quantitativo feito pelo Instituto Datafolha na semana passada, segundo o qual 83% de eleitores de 16 a 24 anos dizem confiar no sistema de urnas eletrônicas — 42% confiam muito e 41% confiam pouco. Entre os mais velhos, por exemplo ,a confiança é menor : 76% para os eleitores com 60 anos ou mais, dos quais 51% confiam muito e 25%, pouco. Para a cientista política Camila

Rocha, uma das responsáveis pelo estudo, os entrevistados jovens costumam dizer que a tecnologia é mais confiável do que as pessoas responsáveis por fiscalizar o processo:

— Os jovens tinham um conhecimento baixo das instituições responsáveis pela condução do processo eleitoral, como o Tribunal Superior Eleitoral, ou mesmo sobre como funciona a eleição. Mas a confiança na tecnologia é alta. O que todos falavam é que não confiavam nas pessoas, mas, independentemente disso, dizem que não vão se sentir desencorajados a votar e que confiam que vai funcionar. Segundo a cientista política, os mais novos não acreditam que o Brasil vá passar por uma situação de golpe ou instabilidade institucional acentuada. Descartam, por exemplo, que ocorra uma situação parecida a invasão do Capitólio, nos Estados Unidos.

De  acordo com ela, muitos diziam que as ameaças de Bolsonaro são da “boca para fora”. O entendimento majoritário é que o presidente não teria recursos para se manter no poder, ainda que alegue fraude. Otimistas quanto à integridade do sistema eleitoral e da democracia, os mais novos temem uma escalada da violência política no país. Por isso, descartam participar de manifestações presenciais contra ou a favor de Bolsonaro. Há o receio de violência. A maioria diz que é preferível ficar em casa e se manifestar pelas redes. A pesquisa entrevistou 45 jovens nas cinco regiões do país.

Os perfis abrangem diferentes intenções de voto. “Nemnem” (que rejeitam Lula e Bolsonaro), indecisos, Bolsonaro e Lula. A socióloga Esther Solano e a cientista política Camila Rocha foram as responsáveis pela condução da pesquisa. Como qualquer estudo qualitativo, o objetivo não foi espelhar a população como um todo. O levantamento buscou mapear o posicionamento político dos eleitores jovens que vão votar pela primeira vez este ano e concluiu que não há tendências claras nem para direita, nem esquerda.