O Globo, n. 32507, 07/08/2022. Política, p. 12

No Senado, disputa entre opositores na pandemia

Bernardo Mello


Na corrida pelo Senado, a eleição da Bahia opõe personagens que ficaram marcados por posições conflituosas durante a pandemia. Candidato à reeleição, o senador Otto Alencar (PSD-BA) ficou conhecido na CPI da Covid, no ano passado, por confrontar representantes do governo buscando expor a falta de conhecimento deles na área de Saúde. Já a médica Raíssa Soares (PL), uma de suas adversárias, recebeu a alcunha de “Doutora Cloroquina” por defender o uso do medicamento ineficaz quando ocupou a secretaria municipal de Saúde de Porto Seguro. Outro concorrente é o deputado federal Cacá Leão (PP), filho do vice-governador da Bahia, João Leão (PP). Cacá assumiu a candidatura depois que o pai, escolhido inicialmente por ACM Neto (União) para sua chapa, recuou da disputa.

Leão foi citado na investigação sobre a compra de respiradores pelo Consórcio Nordeste junto à empresa Hempcare, que não entregou os equipamentos, pagos antecipadamente. Segundo depoimentos, ele teria sido intermediário entre a Hempcare e o consórcio. O caso foi explorado por integrantes da bancada governista no Senado, que tentavam desviar o foco da CPI para os estados. À época da CPI, o presidente Jair Bolsonaro (PL) chegou a divulgar um vídeo em que Leão era citado por sua suposta participação no caso — o que foi negado pelo vice-governador. Nos meses seguintes, antes de romper com o PT baiano, Leão fez declarações rechaçando apoio a Bolsonaro, que avaliava se filiar ao PP. Cacá, por sua vez, tem atuação mais próxima ao governo no Congresso. Otto, que concorre ao Senado na chapa do candidato petista ao governo, Jerônimo Rodrigues, já foi correligionário de Leão. Ambos eram aliados do ex-governador Antônio Carlos Magalhães, mas passaram a integrar gestões do PT na década passada. Leão migrou para o grupo de Neto após ser preterido na definição das candidaturas do grupo governista do estado.

— Me afastei do carlismo há quase 20 anos. É claro que foi um período com seu legado, mas vamos falar na campanha do legado dos governos Lula: escolas técnicas, água, luz em áreas rurais. Quem criticar Lula perde voto na Bahia — avalia Otto.

Raíssa, alinhada ao palanque bolsonarista, e Cacá Leão, que tem seguido a postura de Neto de evitar a polarização nacional, tentam furar o retrospecto de vitórias de senadores alinhados ao PT, que dura quase duas décadas. A última eleição que destoou desse padrão foi a de 2002, em que ACM e César Borges, ambos do antigo PFL, foram eleitos. Além de Otto, a bancada atual da Bahia no Senado conta com Jaques Wagner (PT) e Angelo Coronel (PSD). Embora tenha sido eleito com apoio petista, Coronel tem feito acenos a ACM Neto. Em entrevistas recentes, ele também criticou o governador Rui Costa (PT) pelo rompimento com Leão.