Título: Dirceu agredido na Câmara
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 30/11/2005, País, p. A3

Na véspera da votação de sua cassação no plenário, deputado é atacado por escritor com dois golpes de bengala

Na véspera da provável votação que definirá seu futuro na Câmara, José Dirceu (PT-SP) viveu ontem uma cena inusitada: foi golpeado duas vezes com uma bengala pelo escritor de livros infanto-juvenis Yves Hublet, 67, que visitava o Congresso. Conforme relato de um dos agentes de segurança da Câmara, Hublet afirmou que agrediu Dirceu porque ''teve um súbito ataque de nervosismo'' ao avistar o deputado, que hoje poderá ter seu mandato cassado. O incidente, que causou alvoroço nos corredores da Câmara, ocorreu por volta das 18h, na saída do plenário. Cercado de jornalistas, o ex-chefe da Casa Civil foi surpreendido por dois golpes de bengala que miravam sua cabeça. O deputado acabou sendo golpeado no ombro, mas conseguiu se defender com as mãos da segunda bengalada. Ao deferir os golpes, Hublet também gritou, mas havia dúvida sobre o que disse. Segundo os seguranças da Casa, ao empunhar a bengala, Hublet gritou ''Fristão, Fristão'', que seria em referência ao nome de um feiticeiro, falso autor de novelas de cavalaria. Outro agente de segurança afirmou que ele falou ''Cristão, Cristão''. Após ser atingido, Dirceu tentou segurar o agressor, que foi imediatamente contido pela segurança da Casa. Hublet foi detido pela Polícia Legislativa. Irritado, Dirceu afirmou que o incidente ''mostra um pouco do ambiente que se criou''. - Não vou considerar, é algo inaceitável. Não conheço esse cidadão, simplesmente não tenho palavras para descrever. Vou continuar a luta para provar minha inocência, nada me intimidará, nada me fará voltar'', disse. A direção da Câmara informou hoje que reforçará o esquema de segurança para visitantes e imprensa amanhã, data da votação da cassação de Dirceu. A presença de visitantes nas galerias será controlada por meio de senhas pelas lideranças dos partidos -cada partido receberá número de senhas proporcional ao tamanho da bancada. Na véspera da votação de seu processo de cassação, o deputado José Dirceu (PT-SP) foi ''caçado'' por um homem identificado como Yves Hublet, 67 anos, escritor que disse ter sido acometido de ''súbito nervosismo'' ao dar dois golpes, com uma bengala com ponta de ferro, na cabeça de Dirceu, na saída do plenário da Câmara. Agressões à parte e mesmo sem saber qual será a decisão final do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação ao recurso do deputado, a Casa se prepara para levar adiante o julgamento de cassação do petista ainda na noite de hoje. A Presidência tem em mãos dois relatórios: um já publicado e que é de conhecimento de todos e o segundo, redigido com sem os trechos referentes ao depoimento da presidente do banco Rural, Kátia Rabelo. A elaboração deste novo relatório, antes mesmo da decisão do final, é a forma encontrada pela presidência para garantir a votação hoje. Ontem, os líderes partidários davam como certa a realização da votação ainda hoje, mesmo que a sessão de cassação entre pela madrugada. O próprio Dirceu chegou a manifestar o interesse de que a votação acontecesse antes do final do ano parlamentar. Mas, em reunião com a bancada do PT, ontem de manhã, a impressão que deixou passar foi outra. Dirceu disse não acreditar que seria julgado nesta semana. A defesa estaria trabalhando com a ''saída Peluso'', com destaque para a ponderação de que a exclusão dos trechos obrigaria nova leitura do relatório no plenário e ainda a abertura do prazo de duas sessões para colocar a votação na pauta. - Aldo (presidente da Câmara) está agindo com responsabilidade e isenção ao esperar a decisão do Supremo. Mas dá tempo de sanar os vícios do processo e votar tudo ainda neste ano - afirmou Dirceu ao sair da reunião de bancada do PT. Líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS) afirmou que não se fechou questão sobre a votação, caso ela ocorra ainda hoje. Garantiu que a legenda, que tem a maior bancada da Casa, não vai obstruir os trabalhos. - O assunto não tem sido tratado como um item da pauta. O que se fechou é que os processos do Conselho serão avaliados no plenário por cada um. Até porque o voto é secreto - afirmou Fontana.