Valor Econômico, v. 20, n. 4974, 03/04/2020. Política, p. A8

Maia e presidente do BB trocam ataques por conta da quarentena

Fabio Graner
Marcelo Ribeiro


O presidente do Banco do Brasil (BB), Rubem Novaes, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), trocaram duros ataques ontem. O motivo da discórdia foi a questão das medidas de isolamento social, que vêm sendo criticadas pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo comandante do BB.

Ontem pela manhã, Bolsonaro postou um vídeo de uma mulher criticando as medidas de isolamento. Em tom dramático, ela chorava e dizia que precisava trabalhar que o presidente deveria tomar uma providência. O vídeo foi replicado por Bolsonaro. Novaes, que já há uma semana estava nessa linha, fez o mesmo com sua lista de contatos e sentenciou: “Vejam isso, caiam na real”.

Maia, por sua vez, em entrevista coletiva disse que o presidente do BB deveria falar de liquidez bancária e não de isolamento. A partir daí os ataques mútuos começaram a subir de tom.

“Quanto ao presidente da Câmara, entendo que não deve ter entre suas preocupações principais a desestabilização de um governo eleito com expressiva maioria de votos. O desejo de viabilização de uma candidatura do Centrão não se pode sobrepor à estabilidade institucional”, disse Novaes ao Valor.

O presidente do BB acrescentou que, “sobre liquidez, o BB já rolou dívidas de pequenas empresas e pessoas físicas no valor de R$ 60 bilhões. E estamos operacionalmente prontos para operar a linha para folhas de pagamento já a partir de segunda-feira”.

Mesmo questionado sobre o fato de que até países de referência para o atual governo, como os Estados Unidos, estão adotando isolamento, Novaes defendeu que a ação tenha validade apenas para os mais idosos e portadores de doenças críticas já relacionadas pelo Ministério da Saúde.

“Os outros, devem voltar ao trabalho, tomadas todas as precauções já fartamente elencadas. Isto não é questão para ser decidida apenas por médicos. A perspectiva de uma depressão econômica com convulsão social não pode estar fora do radar”, afirmou o chefe do maior banco do país, que tem capital aberto, mas cujo controle é do governo.

Ele disse, sem nomear pessoas, que está se aproveitando a crise para criar um estado assistencialista. “Segundo Friedman, não há nada mais permanente que um programa temporário de governo”, disse.

Rodrigo Maia (DEM-RJ), contra-atacou e disse que ele tenta agradar Bolsonaro para permanecer no cargo. “Um incompetente só tem um caminho pra manter a presidência do BB, agradar o chefe”, disse Maia ao Valor.

Mas os ataques não pararam aí. Novaes voltou a rebater Maia. “O Rodrigo não me conhece. O meu apego ao cargo é zero. Nossa diferença é que eu sou Fluminense e ele é Botafogo”, disse Novaes em mensagem ao Valor. Botafogo é o time de coração do presidente da Câmara e também foi a alcunha atribuída a ele em planilhas da Odebrecht obtidas na Operação Lava-Jato.

Novaes é um dos integrantes da área econômica mais próximos do ministro Paulo Guedes e um dos bolsonaristas mais ferrenhos. Apesar da orientação do ministro seguir as recomendações do Ministério da Saúde sobre o isolamento, há grande preocupação na pasta com os impactos econômicos dessa medida. (Colaborou Raphael Di Cunto)