Correio Braziliense, n. 21845, 07/01/2023. Política, p. 4

Milicianos atuaram durante campanha

Raphael Felice
Tainá Andrade


A ministra do Turismo, Daniela Carneiro (União-RJ), foi ligada a mais um acusado a chefiar milícias na Baixada Fluminense. Fábio Augusto Brasil, conhecido como Fabinho Varandão, pediu votos e fez campanha para a ministra do Turismo, eleita deputada federal mais votada do estado. O suspeito participou de eventos de campanha, como caminhadas e comícios em setembro do ano passado.

Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), as atividades foram realizadas em locais dominados pelo grupo. Fábio Brasil é apontado como líder de um grupo armado que domina cerca de dez bairros de Belford Roxo. Por meio de um monopólio forçado, os milicianos oferecem sinal de TV e internet clandestino e venda de gás de cozinha, modus operandi comum de grupos milicianos.

Varandão é vereador do município de Belford Roxo (eleito em 2016) e foi preso em 2018 pela Polícia do Rio. Na ocasião, ele foi flagrado por câmeras de segurança circulando armado com outros integrantes da milícia pelos bairros dominados pelo grupo em Belford Roxo.

Na última quarta-feira, o nome de Daniela Carneiro já havia ficado em evidência por envolvimento com outro miliciano. O ex-policial militar Juracy Prudêncio. O homem conhecido como “Jura”, é condenado por homicídio e também é apontado como chefe de milícia na Baixada Fluminense. Jura cumpre a sentença em regime semiaberto e fez campanha para a ministra do Turismo em 2018, quando também foi eleita deputada federal.

Além do envolvimento com a milícia da Baixada, Daniela foi alvo de outra ação do MPRJ no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre nepotismo. Em 2017, Waguinho a nomeou como Secretária Municipal de Assistência Social e Cidadania de Belford Roxo. A ação foi julgada em dezembro de 2019 pela ministra Rosa Weber, mas como Daniela foi demitida do cargo no começo de 2018, a ação “perdeu o objeto”, segundo a relatora, hoje presidente da Corte.

Eleita deputada federal, a ministra disputou o pleito com o nome “Daniela do Waguinho”, em referência ao seu marido, presidente do União Brasil do Rio de Janeiro e prefeito do município de Belford Roxo. Waguinho, que participou do governo de Transição, também foi denunciado por envolvimento com grupos armados.

Erro político

Interlocutores do PT admitem “erro político” na escolha de Daniela do Waguinho para a pasta do Turismo, mas Lula não deve mexer no assunto por ora. 

Lula havia negociado dois ministérios para o União Brasil, mas o partido presidido pelo deputado federal Luciano Bivar (PE), ficou com três pastas. No entanto, a indicação de Daniela Carneiro não é uma unanimidade. A bancada da Câmara queria um ministério para o líder Elmar Nascimento (União-BA). No entanto, o nome dele sofreu resistência de deputados nordestinos do PT, e portanto, o relator da PEC da Transição ficou sem ministério. A indicação de Daniela teria sido uma pedida de Bivar (PE) e do senador Davi Alcolumbre (AP).

Mesmo assim, a legenda não formalizou que fará parte da base aliada do governo federal na Câmara ou no Senado. A posição atual do União é de independência. Bivar, no entanto, garantiu ao ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que o União Brasil contribuirá para a governabilidade.