Correio Braziliense, n. 21846, 08/01/2023. Política, p. 3 
 
Dino convoca Força Nacional 

Francisco Artur 
Michelle Portela 
 
 
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou, ontem, que a pasta está mobilizada para reagir diante de atos antidemocráticos “que podem configurar crimes federais”. Ele anunciou a realização de reuniões com os diretores gerais da Polícia Federal (PF) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para a definição de novas providências contra extremistas e autorizou a atuação da Força Nacional em Brasília até amanhã. São aguardadas para hoje manifestações organizadas por meio de grupos bolsonaristas do WhatsApp e Telegram, com o intuito de, segundo as mensagens, “cercar Brasília” e “parar tudo”.   

“Além de todas as forças federais disponíveis em Brasilia, e da atuação constitucional do Governo do Distrito Federal, teremos nos próximos dias o auxílio da Força Nacional. Assinei agora Portaria autorizando a atuação, em face de ameaças veiculadas contra a democracia”, disse o ministro por meio de redes sociais. 

Dino mobilizou as polícias para evitar novas “absurdas agressões” durante o que o próprio ministro chamou de “atos antidemocráticos”. “Desde cedo, eu e os diretores gerais da PF e da PRF estamos em diálogo e definindo novas providências sobre atos antidemocráticos que podem configurar crimes federais. Vamos manter a sociedade informada. Pequenos grupos extremistas não vão mandar no Brasil”, ressaltou.   

A assessoria de imprensa do ministro confirmou o contato de Dino com os diretores-gerais Andrei Rodrigues (PF) e Antônio Fernando Oliveira (PRF), mas disse que os encaminhamentos e possíveis providências não serão divulgados. Afirmou, porém, que as ações convergem para a necessidade de reação  para evitar ações como as ocorridas em São Paulo, na noite de sexta-feira, quando extremistas entraram em conflito com a população. “A atribuição constitucional, em um primeiro momento, é das esferas policiais locais”, afirmou Dino, em seu perfil no Twitter. 

Ao classificar os episódios de “atos antidemocráticos”, Dino se refere a atitudes isoladas de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro — derrotado nas eleições do ano passado — que prejudicam a ordem pública. O chefe da pasta da Justiça anunciou o intuito de buscar novas diligências, para evitar que extremistas voltem a realizar ações violentas em Brasília e no resto do país. “Reiteramos que liberdade de expressão não abrange agressões físicas, sabotagens violentas, golpismo político, etc. Recomendo que pessoas agredidas procurem imediatamente Delegacias da Polícia Civil para registro da ocorrência, se possível, com imagens.” 

Desmonte 

A reunião entre Dino e os diretores da PF e PRF ocorre um dia após acampamentos bolsonaristas serem desmontados pelo Brasil. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acolheu o pedido da Procuradoria-Geral do Município de Belo Horizonte e cassou a decisão judicial de 1ª instância que autorizou a obstrução da Avenida Raja Gabaglia, onde manifestantes com intenções golpistas se reúnem em frente ao Comando da 4ª Região Militar. O ministro determinou a “imediata desobstrução” da avenida e das “áreas do seu entorno, especialmente junto a instalações militares”. 

Na sexta, a Polícia Militar de Minas Gerais desarticulou um grupo de ao menos 50 pessoas que ocupavam a avenida. Durante a operação policial, bolsonaristas se mostraram resistentes a sair do local. Houve cenas de agressão a equipes de imprensa, e a Polícia Civil mineira identificou uma mulher suspeita de agredir jornalistas. 

Na primeira reunião ministerial do novo governo, na sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu um relatório que mostra grande desmobilização dos acampamentos bolsonaristas no entorno de quartéis do Exército. O número de pessoas aglomeradas na porta das unidades militares caiu de 43 mil para cerca de 5 mil. Os dados foram apresentados pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro.