Título: Sessão extraordinária para votar cassação de Dirceu
Autor: Renata Moura e Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 29/11/2005, País, p. A4

Ontem, com a ausência do quórum mínimo de 51 parlamentares para abertura das atividades do dia na Câmara, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu ganhou o prazo regimental de mais duas sessões para a definição de seu futuro político. Na tentativa de evitar que o julgamento seja prorrogado pela quarta vez, o presidente da Casa, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), estuda abrir sessão extraordinária para votar o pedido de cassação de Dirceu amanhã.

Aldo, que já havia se recusado a abrir sessão extraordinária para votações de cassação de mandato sob o argumento de que o quórum ficaria comprometido, justificou seu novo posicionamento. Segundo ele, ''a situação'' é diferente.

- Não estou trabalhando com a hipótese de adiar o julgamento de quarta-feira - afirmou o presidente da Câmara.

A votação do processo em sessão extraordinária daria a Aldo a segurança de não se indispor com ninguém, e nem mesmo se expor. Usando o regimento, Aldo garantiria o julgamento de Dirceu após as 19h de amanhã, já orientado pela luz da decisão do Supremo Tribunal de Justiça (STF) em relação ao recurso do petista. Durante o fim de semana, o presidente da Câmara chegou a telefonar para líderes das bancadas e se aconselhar sobre a situação. Pediu empenho para garantir a presença no painel da Casa e foi firme ao afirmar que colocaria ''de qualquer maneira a votação do pedido de cassação de Dirceu para esta quarta''.

O peso maior do posicionamento de Aldo também está em sua grande preocupação em ter de voltar a se apresentar como testemunha de defesa de Dirceu, no caso de o STF acatar os argumentos de que houve inversão de provas. Se Aldo deixar que o legislativo se manifeste sem garantir o julgamento nesta quarta-feira, acabaria dando mais espaço para que sua presença fosse ''exigida'' na cadeira do Conselho de Ética.

Ontem, nem mesmo o presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), nem o relator do processo contra Dirceu, Júlio Delgado (PSB-MG), que trabalharam pesado para garantir a presença dos colegas na Casa, estavam em Brasília. Até as 14h30, a Casa só havia registrado a presença de 49 deputados. Com mais dois, a abertura das atividades estaria garantida.

- Infelizmente não conseguimos chegar até a abertura da sessão em Brasília. Agora, o que se tem de avaliar é o posicionamento do PT, que há um mês trabalha para esticar os prazos - afirmou Delgado, por telefone de Belo Horizonte.

O deputado mineiro, que na semana passada juntou mais de 65 assinaturas para derrubar o prazo de duas sessões para votação do processo contra Dirceu, disse estar confiante que Aldo abrirá sessão extraordinária.