Título: Disputa atrapalha CPI
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 29/11/2005, País, p. A5

A queda-de-braço entre PT e PSDB emperrou os trabalhos da CPI dos Correios, que mais uma vez não deve votar, na próxima quinta-feira, o relatório sobre a movimentação financeira do publicitário Marcos Valério de Souza. O documento, elaborado pelo deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), deve ser refeito e incorporado a um parecer do relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) previsto para o dia 15 de dezembro. - O que nos norteia é evitar que a CPI vire um campo de batalha. As investigações não podem ser prejudicadas por discussões paralelas - afirmou Serraglio.

- A CPI não pode correr o risco de virar um Banestado, um conflito de vaidades - disse o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), que é relator-adjunto, se referindo às disputas políticas que levaram a CPI do Banestado a acabar sem a votação de um relatório final.

No centro do imbróglio atual está o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) que, depois de ser pressionado, admitiu ter utilizado caixa dois em sua campanha à reeleição ao governo de Minas, em 1998. Assim como o PT, ele teria sido beneficiado por um esquema de financiamento montado por Valério.

Esse fato, porém, não foi mencionado por Fruet, que é sub-relator de movimentação financeira, em seu parecer. Petistas que integram a comissão se recusam a aprovar o documento por considerá-lo tendencioso.

O relatório, apresentado no último dia 10, pede o indiciamento do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e de Valério por crimes como lavagem de dinheiro e caixa dois em campanhas eleitorais. Fruet também afirma que os empréstimos bancários tomados pelo publicitário e repassados ao PT são uma ''farsa'' para esconder a verdadeira origem do dinheiro.

Em tom de ameaça, os tucanos só admitem incluir o depoimento de Cláudio Mourão, tesoureiro da campanha de Azeredo, no relatório, se também forem citadas as declarações do marqueteiro Duda Mendonça de que houve caixa dois em campanhas petistas em 2002. Fruet faz questão de lembrar, por exemplo, que o suposto crime eleitoral cometido pelo senador tucano já prescreveu, o que não valeria para as campanhas petistas de 2002 e 2004.

Ao incorporar o relatório de movimentação financeira, Serraglio pretende incluir tanto o esquema do PSDB em Minas Gerais quanto supostas irregularidades no financiamento de campanhas petistas.

Fruet cogitou enviar o parecer ao Ministério Público e à Polícia Federal, mas se validade como documento produzido pela CPI.