Valor Econômico, v. 20, n. 4974, 03/04/2020. Empresas, p. B3

Fundo emergencial capta R$ 2 milhões em uma semana para tratar covid-19

Juliana Schincariol 


Um fundo emergencial criado para apoiar o sistema público de saúde no tratamento da covid-19 recebeu R$ 2 milhões em doações em sua primeira semana. A maioria foi de pessoas físicas, mas o objetivo é atrair também companhias, que podem contribuir com montantes maiores. Duas empresas aderiram à causa: o outlet on-line de moda Privalia e a empresa de cosméticos alemã Schrammek. Uma terceira, do ramo de restaurantes, está em processo de adesão.

A iniciativa é do Movimento Bem Maior, organização filantrópica que tem entre os fundadores os empresários Rubens Menin (MRV), Elie Horn (Cyrela) e Eugenio Mattar (Localiza), em parceria com o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis) e a BSocial, plataforma que viabiliza doações.

“Lançamos a campanha há sete dias e arrecadamos R$ 2,1 milhões; 90% foram pessoas físicas. Foram 1,3 mil doadores na plataforma e apenas nove com depósitos acima de R$ 50 mil”, disse a presidente do Movimento Bem Maior, Carola Matarazzo. O valor mínimo da doação é de R$ 20.

No fim da semana passada, o grupo começou a procurar fundos de investimentos, bancos e companhias de outros setores. Segundo os organizadores, as empresas estão prestando atenção ao movimento e começam a se manifestar de forma voluntária. A Privalia vai incentivar, via site, os clientes que finalizarem compras a pagarem valor adicional que será destinado ao fundo emergencial. A Schrammek vai repassar 20% de suas vendas on-line no país para o projeto.

“A capacidade de doação de uma empresa em geral é maior do que a de uma pessoa física, as empresas trazem credibilidade para o fundo. Do ponto de vista empresarial, também mostra para os funcionários e clientes que mesmo num momento tão grave a empresa não está paralisada e está tomando uma atitude”, diz a diretora de comunicação do Idis, Andrea Wolffenbüttel.

Os recursos serão destinados à Fiocruz, à Santa Casa de São Paulo, e à Comunitas, organização que está adquirindo respiradores a serem entregues ao SUS. Outros três hospitais, todos do Estado de São Paulo, devem passar a fazer parte da lista de beneficiários.

As doações serão revertidas em respiradores, testes para diagnóstico de infecção por coronavírus, equipamentos hospitalares e para UTIs, medicamentos e materiais como aventais e máscaras.

A cofundadora da BSocial, Maria Eugênia Duva Gullo, diz que o momento é de fortalecer a rede pública, mas novas questões deverão ser enfrentadas. “Vamos entrar num problema muito sério, que existia no Brasil e que vai piorar: a falta de renda, de alimentos. Vamos poder usar mais nosso canal para fortalecer as doações.”

A gestão financeira do fundo é feita pela Sitawi, organização especializada em prestar serviços financeiros para projetos de impacto social. E além de um conselho deliberativo, o fundo conta com um conselho médico que ajuda a definir os valores dos repasses e as prioridades dos hospitais.

“Esse fato tão triste pode ser grande alavanca para mudar a cultura de filantropia no Brasil. Temos que pensar à frente com proatividade. Espero que a rede de colaboração se mantenha”, afirma Carola.