Valor Econômico, v. 20, n. 4974, 03/04/2020. Finanças, p. C2

Investidores locais colocam mais de R$ 21 bilhões na bolsa em março

Ana Carolina Neira 


Nem mesmo a derrocada da bolsa brasileira no mês de março e a sucessão de “circuit breakers” que atingiram o mercado no último mês foram capazes de afugentar os investidores locais.

Num mês marcado por uma queda de 29,90% do Ibovespa, a maior desvalorização mensal em 22 anos, as pessoas físicas fizeram um aporte líquido de R$ 17,6 bilhões. O movimento foi na contramão do que fizeram os estrangeiros, que sacaram R$ 24,2 bilhões do mercado secundário - a maior retirada em um mês em toda a série histórica. Já os investidores institucionais colocaram R$ 4 bilhões durante o mês passado. Os dados, informados pela B3, foram elaborados pelo Valor Data.

No ano, o resultado não é diferente: pessoas físicas seguem com um saldo positivo de R$ 26,1 bilhões, valor muito próximo do que os estrangeiros retiraram daqui em apenas um mês. Os institucionais, por sua vez, aportaram R$ 36,3 bilhões em 2020.

Já a fuga dos estrangeiros é evidente, com um saque de R$ 64,3 bilhões em recursos em apenas três meses, de longe a maior retirada líquida para um período de três meses da série histórica.

O cenário não mudou e segue desafiador, mas é tempo de oportunidade para investir, afirmam analistas. A regra tem sido aproveitar os preços baixos de maneira generalizada entre todos os setores e aquelas empresas com melhores funda em que tudo na bolsa parecia estar meio caro, muita gente que deixou de investir em uma companhia lá atrás, aproveita o momento atual.

“No início do ano, houve aportes dos locais porque ninguém entendia direito essa questão do coronavírus, se ele chegaria por aqui, quais seriam os impactos. Uma vez que chegou e os casos no mundo aumentaram, a bolsa derreteu, mas aí surgiu a oportunidade de comprar”, explica analista de investimentos da Daycoval Investimentos, Enrico Cozzolino.

“Se olharmos os preços agora, eles estão muito mais atraentes do que há apenas alguns meses, o mercado em geral está muito mais barato. Caso seja uma empresa robusta, o investidor vai comprar”, afirma Ivan Kraiser, gestor-chefe da Garín.

Para Ricardo Cavalieri, estrategista de ações do BTG Pactual Digital, é uma questão de custo de oportunidade e um aspecto importante atual é a estrutura das empresas. “Quando olhamos o Ibovespa, por exemplo, são companhias de alta qualidade, muito melhores do que foram no passado. São empresas que fizeram bom trabalho de gestão nos últimos anos, possuem caixa, baixa alavancagem. Faz sentido investir nelas agora porque o preço está baixo e eventualmente a crise passa.”

Outras condições que o profissional elenca como essenciais são os juros baixos e a inflação controlada. “O mercado acredita que o Banco Central pode reduzir ainda mais os juros. Se isso acontecer daremos continuidade ao que já vimos nos últimos meses, em que, por mais risco que exista, a renda variável continua fazendo mais sentido para o investidor local.”