Correio Braziliense, n. 21848, 10/01/2023. Política, p. 2

Acampamento desfeito após 3 meses

Ândra Malcher


Depois de quase três meses, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) desocupou, ontem, o acampamento bolsonarista em frente ao Quartel-General do Exército, no Setor Militar Urbano, em Brasília. Segundo levantamento da corporação, cerca de 1,2 mil pessoas foram presas e levadas em 50 ônibus para o Complexo da Polícia Civil, para, em seguida, serem encaminhadas à Polícia Federal (PF). Devido à grande quantidade de detidas, a Academia Nacional da PF foi utilizada para receber os manifestantes golpistas.

A desocupação só aconteceu depois dos atos terroristas que depredaram, domingo, o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF). Isso porque o acampamento recebeu boa parte dos criminosos que atacaram as sedes dos Três Poderes.

Também no domingo, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, ordenou a remoção dos golpistas. “Determino a desocupação e dissolução total, em 24 (vinte e quatro) horas, dos acampamentos realizados nas imediações dos Quartéis Generais e outras unidades militares para a prática de atos antidemocráticos e prisão em flagrante de seus participantes pela prática dos crimes previstos nos artigos 2ª, 3º, 5º e 6º (atos terroristas, inclusive preparatórios) da Lei nº 13.260, de 16 de março de 2016 e nos artigos 288 (associação criminosa), 359-L (abolição violenta do Estado Democrático de Direito) e 359-M (golpe de Estado), 147 (ameaça), 147-A, § 1º, III (perseguição), 286 (incitação ao crime)”, diz a decisão.

Essa desocupação do acampamento dos golpistas tornara-se um constrangimento. No governo Lula, opôs os ministros Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública) e José Múcio (Defesa), que tinham propostas diferentes para os bolsonaristas — um defendia tirá-los, outro que fossem embora naturalmente. Também colocou a PM contra o Exército, que não tomou qualquer atitude para remover os radicais, que, por se encontrarem em área militar, não podiam ser removidas pelo aparato de segurança do DF.

À medida que o acampamento ia sendo derrubado, os bolsonaristas se mostravam surpresos e impotentes. Uma das golpistas disse que o Exército não os defendeu e não tinha ideia de que estava sendo presa. “Infelizmente, a verdade é essa: o Exército entregou o povo. O Exército entregou os patriotas para a polícia, essa mesma polícia que ontem estava dando borrachada e soltando gás na nossa cara. O Exército não nos defendeu”, lamentou.

Da Academia da PF, vários detidos publicaram vídeos feitos por celular nas redes sociais e, em alguns, se podia escutar hinos religiosos. Até o fechamento desta edição, a corporação não explicou por que os aparelhos dessas pessoas não foram confiscados.