Título: Indústria anda para trás
Autor: Viviane Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 29/11/2005, Economia & Negócios, p. A17

Integrantes do alto escalão do governo deram ontem um exemplo claro de que a política econômica implantada no país está longe de ser uma unanimidade. O vice-presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar afirmou que os juros altos elevam a dívida pública e os caracterizou como uma ''irresponsabilidade fiscal''.

- Temos construído um déficit que faz crescer a nossa dívida, hoje em 50% do PIB - afirmou o vice-presidente, que participou ontem do Seminário Internacional Industrialização, Desindustrialização e Desenvolvimento, promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Alencar afirmou que há muitos anos o país está assistindo a um processo de desindustrialização da economia, conseqüência da política de juros. O vice-presidente se comprometeu ainda a levar uma carta de manifesto ''Pelo desenvolvimento do Brasil'', assinada por Fiesp e Iedi, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, também admitiu a desindustrialização do país nas últimas décadas. Apesar disso, ponderou que o desempenho negativo da indústria se reverteu a partir de 2003.

Mantega lembrou que na década de 1990 houve um baixo crescimento da indústria, mas por outro lado verificou-se um aumento importante da produtividade, que, segundo ele, nos últimos 12 ou 15 anos cresceu mais do que a de países avançados e asiáticos.

Ele considera que o setor está ''pronto para a briga'', e prevê crescimento médio da indústria de 5,88% ao ano, e da produtividade, de 4,88%, entre 2004 e 2005.

O diretor-executivo do Iedi, Julio Gomes de Almeida, concorda com Mantega, mas diz que nos anos 90 o setor regrediu ''30 anos em dez''.

- Apesar do retrocesso, a indústria preservou condições relevantes para crescer. O país preservou uma diversidade industrial relativamente grande entre 2004 e 2005 e voltou a ter crescimento de produtividade.

Quem criticou mais duramente a atual política foi o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto. Para ele, a tendência é de redução do desenvolvimento da indústria, um setor que explica, segundo Delfim, 88% das flutuações do Produto Interno Bruto.

- O ponto-chave da postura do Banco Central é uma coisa absolutamente fantástica. A economia não pode crescer mais de 3,5%. Isso é uma coisa dos tarometristas, que combinam os métodos do tarô com os da economia.