Título: Miséria cai à metade em uma década
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 29/11/2005, Economia & Negócios, p. A17

O Brasil alcançou a primeira das Metas do Milênio definidas pela Organização das Nações Unidas (ONU): reduziu a miséria à metade. A parcela das pessoas que ganham pelo menos US$ 1 por dia caiu de 12,41% em 1993 para 5,33% em 2004. O prazo para o cumprimento das Metas é de 25 anos, de 1990 até 2015. A Fundação Getúlio Vargas (FGV), que divulgou a informação, festeja a redução da miséria, mas em outros conceitos, já que, para a instituição, não é possível sobreviver com apenas US$ 1, ainda que este seja ajustado pelas diferenças do custo de vida de cada país. O chefe do Centro de Estudos Sociais da FGV, Marcelo Neri, comemora o que ele chama de ''inédita distribuição do bolo'' por uma linha de pobreza bem mais rígida. Para não ser considerado pobre ou miserável pela FGV, o cidadão brasileiro precisa ganhar pelo menos R$ 115 por mês. A queda da pobreza, neste caso, foi de 31,41% entre 1993 e 2004. Mas a consistente redução da miséria brasileira, de acordo com a fundação, começou em 2001, com a expressiva distribuição de renda.

A diminuição da desigualdade social nos três primeiros anos do milênio é a maior em toda a história do Brasil, a considerar a renda de toda a família. Só em 2004, quando a distribuição de renda cresceu em um ritmo dobrado em relação a 2002 e 2003, a redução da desigualdade foi a principal responsável pela queda de 8% da pobreza. Se não fosse o aumento da distribuição de renda, a queda na pobreza seria de apenas 3%.

De 2001 a 2004, os 50% mais pobres aumentaram a renda per capita em 13,8%. No mesmo período, no topo da pirâmide social, os 1% mais ricos perderam 7,8%. Já os 10% mais ricos perderam 5,5% da renda média domiciliar per capita. Nos 40% das faixas intermediárias, houve ganho de 2,2%.

- Temos uma coisa rara na economia brasileira. A desigualdade enfim começou a se mexer; o bolo cresceu e foi distribuído - avalia Neri.

Além do aumento de renda dos mais pobres, 200 mil famílias passaram a receber algum dinheiro no ano passado. Em 2003, 1,5% das famílias não tinham renda alguma. O percentual caiu para 1,1% em 2004.

Três razões concretas e uma reflexão explicam a redução da desigualdade social: o aumento expressivo da escolaridade, do emprego e do acerto do governo em programas sociais. A sociedade brasileira também estaria contribuindo, com mais consciência e solidariedade.

- O governo brasileiro tem uma certa especialidade em passar recursos para o não pobre e agora ele acertou o foco - afirma Neri, citando o programa Bolsa-Família.

De 2003 para 2004, a fatia de pobres recuou de 27,6% para 25,08% da população. A queda ocorreu porque, segundo a FGV, o bolo foi dividido. Em 2003, a economia ficou parada e a pobreza acabou crescendo 3,95%, mas o resultado poderia ter sido pior não fosse a expressiva distribuição de renda.