O Povo, 17/07/2019. Versão on-line

Onde está a esperança?

Jaques Wagner 


O Brasil está estagnado economicamente. Os dados de maio da indústria, comércio e serviços  mostram isso. Como resultado, o PIB recuou 0,2% no primeiro trimestre. A demanda não se  recuperou. As famílias melhoraram, mas não voltaram a consumir. As empresas estão produzindo  menos. E as projeções são preocupantes. O que reflete no desemprego que atinge mais de 13  milhões de pessoas. 

Nesse cenário, o governo parece alheio. O investimento – político e orçamentário – é pela  aprovação da reforma da Previdência, que dificulta aposentadorias e acentua desigualdades. Para  ter apoio, o governo empenhou R$ 2,7 bilhões, sendo R$ 1,5 bilhão em emendas de parlamentares.  Garantiram a maioria para aprovação na Câmara, deixando claro que a forma de fazer política não  tem nada de nova. Pior, vendem a ilusão de que a reforma será a salvação do Brasil. Já vimos esse  filme em 2017, com a aprovação da reforma trabalhista que prometia milhões de empregos, mas só  trouxe precarização e desalento. 

Para além da falta de alternativas, assistimos a um festival de pregações ideológicas que estão  longe de resolver o problema do país. Recente pesquisa Datafolha demonstra ampla rejeição  popular aos projetos de flexibilizar a posse e o porte de armas e retroceder nas regras de trânsito. 

Para piorar, cortaram investimentos na educação. Estamos em julho e, até agora, não houve  repasse para as escolas integrais. Nas creches, foram investidos R$ 10,3 milhões, oito vezes menos  do que no mesmo período de 2018. 

Outro péssimo exemplo é o da construção civil. O setor está 27% aquém do registrado no início de  2014. E o governo anuncia redução nos investimentos do Minha Casa, Minha Vida, programa que  promoveu crescimento do setor, gerou empregos e possibilitou a milhões o sonho da casa própria. 

Não sou de fazer oposição destrutiva, apostando no pior. Minha atuação é para que o país se  desenvolva, gerando empregos. No entanto, é fundamental que o governo mude suas prioridades.  Não será com cortes em programas e com a ausência de projetos concretos que daremos  esperança para os brasileiros. Muito menos com pregações ideológicas que só acentuam divisões e  não trazem qualquer perspectiva de reação diante de tamanha paralisia. Seis meses já se passaram.  Está na hora de reagir. O Brasil não pode mais esperar.