O Povo, 09/09/2019. Versão on-line

Só há independência com soberania

Jaques Wagner


O Brasil acaba de celebrar a data da sua independência, que reforça a necessária  reflexão sobre a importância da soberania nacional para sermos de fato livres. Está em  curso um ataque ao conteúdo nacional, desmonte do nosso patrimônio e  desnacionalização de nossas empresas, justificados por falsas polêmicas e por uma  suposta austeridade para enfrentar a crise. Ocultam o incalculável valor das riquezas,  bem como seu potencial estratégico para garantir autonomia ao país. 

Anunciaram a intenção de privatizar nove empresas, como os Correios, estatal com  mais de três séculos de história, superavitária e presente em todas as cidades  brasileiras. É, em muitos casos, a única forma que milhões de pessoas têm para  enviarem e receberem cartas, encomendas, pagarem suas contas e emitirem  documentos. Também integra a lista a Telebras, que controla a rede de fibra ótica  brasileira e o Satélite Geoestacionário de Defesa Estratégica, essenciais para nossa  segurança, defesa nacional e também para a conectividade e inclusão digital. Ambas  atendem ao interesse do país e não às regras de mercado. Se privadas fossem, não  investiriam na entrega de encomendas nem na expansão da banda larga em pequenas  cidades do interior, uma vez que esses serviços não são lucrativos. 

Na educação, ciência e tecnologia, o governo trata como economia o corte de 11.800  bolsas de mestrado e doutorado. Também não há garantia de pagamento para 84 mil  bolsistas que garantem a pesquisa e a produção científica nacional. A compulsão  entreguista sobre a Amazônia compromete nossa biodiversidade, riquezas minerais e  os direitos de povos indígenas, e só foi interrompida diante da pressão internacional. 

São exemplos de o quanto a concepção política do governo é alinhamento acrítico aos  interesses de outros países, especialmente os EUA, cuja bandeira já mereceu  constrangedoras continências do presidente brasileiro, apesar de se dizer nacionalista.  São as incoerências dessa era, na qual procuradores que se dizem cristãos  comemoram o sofrimento de alguém que perdeu familiares. Resistir a esse projeto  colonial e submisso é impedir a liquidação do patrimônio do povo brasileiro, do nosso  conhecimento e da emancipação que só um país soberano pode ter e assim  reivindicar-se verdadeiramente independente.