Correio Braziliense, n. 21849, 11/01/2023. Política, p. 2

Ex-ministro da Justiça tem prisão decretada

Victor Correia


O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou, ontem, a prisão do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres. A razão é a suspeita de que, ao não elaborar um plano de segurança para conter a invasão de terroristas bolsonaristas, foi conivente com as depredações das sedes dos Três Poderes, no domingo, em Brasília. Titular da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal desde o dia 2, ele viajou para os Estados Unidos com a família 24 horas antes dos ataques criminosos.

A prisão foi pedida pela Advocacia-Geral da União (AGU), que também viu omissão de Torres — exonerado ainda no domingo — ao não mandar desfazer o acampamento de golpistas que estava montado em frente ao Quartel-General do Exército. Aproximadamente 100 ônibus trazendo terroristas — convocados pelas redes sociais ao longo da semana passada — chegaram a Brasília no sábado e se juntaram aos bolsonaristas que pediam intervenção militar.

 Em documento enviado ao Supremo, a AGU pediu a prisão de todos os envolvidos nos ataques a prédios públicos, incluindo Torres e o ex-comandante da Polícia Militar do DF, coronel Fabio Augusto (leia mais na página 13). Na sequência à expedição do mandado de prisão, a Polícia Federal (PF) realizou, à tarde, uma operação de busca e apreensão na casa do ex-secretário de Segurança, no Jardim Botânico.

Oito agentes da PF estiveram no local, em dois carros descaracterizados — um Toyota Corolla prata e um Citröen C4 cinza. O grupo de agentes ficou por volta de duas horas na residência de Torres. Durante o tempo em que estiveram no imóvel, fecharam as cortinas para garantir a discrição da ação. Deixaram o local levando documentos.

Pouco antes da operação da PF, Torres fez circular em sua conta no Instagram a mensagem de que seu celular fora clonado. “Olá, clonaram meu WhatsApp, não aceitem nenhuma mensagem ou ligação”, postou. À noite, ele tuitou: Recebi notícia de que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou minha prisão e autorizou busca em minha residência. Tomei a decisão de interromper minhas férias e retornar ao Brasil. Irei me apresentar à Justiça e cuidar da minha defesa. Sempre pautei minhas ações pela ética e pela legalidade. Acredito na justiça brasileira e na força das instituições. Estou certo de que a verdade prevalecerá”.

Sem complacência

Distante da situação de Torres e dos mandados de prisão que começam a ser expedidos pelo STF, o governo federal, em articulação com os estados e instituições dos Três Poderes, se articula para evitar que o terrorismo de domingo volte a se repetir. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, comparou a reação aos atos com a justiça divina deixou claro, ontem, que não haverá complacência com que financiar, facilitar e praticar crimes contra o Estado Democrático de Direito.

“Gênesis traz o primeiro inquérito, a primeira ação penal e a primeira sentença. Condenados: Adão, Eva e a serpente. E Deus não fez a anistia, não transigiu com princípios. Deus aplicou a lei e puniu proporcionalmente Adão, Eva e a serpente”, disse, na posse do novo diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos.

O ministro também classificou os vândalos que se dizem cristãos como “sepulcros caiados: por fora ostentam supostos valores da família, mas por dentro são capazes de atos hediondos”.

Para fortalecer o policiamento em Brasília, Dino assinou uma portaria que permite o emprego de policiais cedidos por Ceará, Bahia, Piauí, Alagoas, Rio Grande do Norte, Maranhão, Goiás e Rio Grande do Sul no contingente da Força Nacional que está em Brasília. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) de ontem. Ao todo, mais de 600 policiais, de 15 estados, reforçarão a segurança.