Correio Braziliense, n. 21849, 11/01/2023. Política, p. 3

Prisão não é colônia de férias

Rafaela Gonçalves


O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes afirmou, ontem, que o combate aos atos de terrorismo, em Brasília, continuará e prometeu punição a quem incentivou os crimes “por ação ou omissão”. O aviso foi dado no na cerimônia de posse do novo diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Passos Rodrigues.

“Dentro da legalidade, as instituições irão punir todos os responsáveis. Todos. Aqueles que praticaram os atos, aqueles que planejaram os atos, aqueles que financiaram os atos e aqueles que incentivaram, por ação ou omissão. Porque a democracia irá prevalecer”, anunciou.

Ele também ironizou que os criminosos bolsonaristas que invadiram as sedes dos Três Poderes e depredaram o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso, no domingo, não devem achar que as prisões são “colônias de férias”. Isso porque grupos de golpistas vêm espalhando mentiras, pelas redes sociais, de que estão sendo maltratados na detenção — fase prevista na lei penal para todo aquele que é suspeito de ter cometido um crime —, na Academia da PF, no Colorado.  

“Não achem esses terroristas que até domingo faziam baderna e agora estão presos, querendo que a prisão seja uma colônia de férias. Não achem que as instituições irão fraquejar”, alertou.

Moraes acrescentou que as instituições “não são feitas só de mármore, de cadeiras, de mesas, mas de pessoas, de coragem, e de cumprimento da lei” — numa referência ao patrimônio físico destruído pelos terroristas nas invasões de domingo. Segundo o ministro, não é mais possível conversar com os terroristas de forma ponderada. “Essas pessoas não são civilizadas. Basta ver basta ver o que fizeram no Palácio do Planalto, no Congresso Nacional e, com muito mais raiva e ódio, no Supremo Tribunal Federal”, destacou.

Na segunda-feira, Moraes determinou a desmobilização de todos os acampamentos de bolsonaristas erguidos diante de unidades do Exército, em todo o país, com a prisão de quem permanecer no local. Apenas em Brasília, 1,5 mil pessoas foram detidas, quase todas acampadas em frente ao Quartel-General do Exército, no Setor Militar Urbano. Os presos foram levados para a sede da Academia da PF em um comboio de, aproximadamente, 50 ônibus do transporte público do DF, disponibilizados para dar o apoio à operação.

História

Segundo o ministro, a operação de desmobilização dos acampamentos foi “necessária para garantir a democracia, para mostrar que não há apaziguamento nas instituições brasileiras”. “Se o apaziguamento tivesse dado certo, não teríamos tido a Segunda Guerra Mundial. A ideia de apaziguamento é por covardia ou por interesses próprios. Temos que combater firmemente o terrorismo, as pessoas antidemocráticas, as pessoas que querem dar o golpe, que querem o regime de exceção”, salientou.

O ministro disse, ainda, ter ficado feliz com a escolha do delegado Rodrigues para o cargo de dirigente da PF e reforçou o papel da instituição. “A Polícia Federal é um orgulho para o povo brasileiro, é um órgão de Estado. Os governos passam, a Polícia Federal fica. É um órgão competentíssimo que vem, ano após ano, ganhando cada vez mais o respeito e a admiração da população”, observou, depois de alfinetar o ex-presidente Jair Bolsonaro, que aparelhou a PF em defesa de interesses pessoais.