O Povo, 16/10/2019. Versão on-line

Desenvolvimento econômico e ambiental

Jaques Wagner


O Brasil vive um momento de crise e de incertezas. Segundo o IBGE, o desemprego  atinge 12,6 milhões de pessoas, 11,8% da população economicamente ativa. Se  considerarmos os desalentados – aquelas pessoas que desistiram de procurar  emprego – são mais 4,9 milhões de brasileiros e brasileiras. As previsões de  crescimento do PIB não são animadoras, com a perspectiva de um aumento tímido  de menos de 1%. E a desigualdade de renda atingiu o maior patamar já registrado,  conforme recente divulgação da Fundação Getúlio Vargas. O governo federal tem  focado em uma política econômica que não tem sido capaz de apontar soluções  para essa crise do emprego e da renda. 

Paralelo a isso, vivemos um momento de grande retrocesso na questão ambiental.  O governo é negacionista ao não reconhecer o aquecimento global, desprezar a  contribuição de outros países para conter o desmatamento e as queimadas e  incentivar práticas predatórias que colocam o nosso ecossistema e as populações  tradicionais em risco. E como vive do conflito, tenta construir uma falsa dicotomia  entre desenvolvimento e preservação do meio ambiente. 

Sou entusiasta de uma nova matriz produtiva e de consumo sustentável como  alavanca para mudar estruturalmente o estilo de desenvolvimento, incentivando  variadas cadeias produtivas, diminuindo os conflitos e impactos ambientais. Ao  mesmo tempo, capaz de recuperar a capacidade produtiva do capital natural do  nosso país. Essa proposta deve ser construída em conjunto com a sociedade, capaz  de conciliar e propor reformas estruturais e de desenvolvimento econômico e  social, que representem um novo momento de crescimento e geração de emprego e  renda, incluindo os investimentos resilientes e de baixo carbono. 

Acredito que os tempos atuais nos desafiam a construir este modelo de  desenvolvimento a partir de um tripé de sustentabilidade: ambiental, social e  econômica. Somente a partir de um Novo Arranjo Verde para o Desenvolvimento  Sustentável – mundialmente conhecido como Grande Impulso Ambiental (Big  Push) – conseguiremos alavancar investimentos nacionais e estrangeiros para  produzir um ciclo virtuoso de crescimento econômico, gerador de emprego e  renda, redutor de desigualdades e promotor de sustentabilidade, preservando uma  das nossas maiores riquezas: o meio ambiente.