Correio Braziliense, n. 21849, 11/01/2023. Política, p. 4

Padilha diz que ato é “mecanismo extremo”

Ândrea Malcher


Após o Brasil ser tema da imprensa mundial com a festa da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o país voltou às manchetes dos jornais do mundo inteiro com as imagens do terrorismo contra os Três Poderes, no domingo. Ontem, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, recebeu correspondentes internacionais e foi enfático ao dizer que o governo do Distrito Federal foi negligente com a proteção da cidade. E justificou o decreto de intervenção na segurança pública da capital como necessária para o retorno da ordem e apuração dos fatos.

 “O que existiu, claramente, do ponto de vista nacional, foi uma negligência inadmissível por parte do governo do Distrito Federal, sobretudo seus agentes de segurança. Não à toa, o advogado-geral da União solicitou a prisão preventiva do ex-secretário de segurança pública do GDF, que nem no Brasil estava. Inclusive, está nos Estados Unidos, no mesmo estado onde se encontra o ex-presidente da República”, referindo-se ao ex-ministro de Jair Bolsonaro Anderson Torres, que teve prisão determinada ontem por Alexandre de Moraes. “A intervenção federal permite uma apuração mais firme e detalhada, sem obstáculos, de todos aqueles que são responsáveis pelos atos terroristas.”

Chamando a intervenção de “mecanismo extremo da Constituição”, tamanha a proporção do incidente do último domingo, o ministro destacou a união entre os Três Poderes, simbolizada pela caminhada de Lula até a sede do Supremo, na segunda-feira, com governadores e ministros da Corte, para ver de perto os danos provocados pelo vandalismo, “mostra claramente não só a nossa capacidade política de impedir a tentativa de golpe do dia 8 de janeiro, mas dá uma grande resposta institucional e política”.

Para ele, a intenção por trás dos atos de terrorismo do dia 8 de janeiro era instigar as Forças Armadas e de segurança pública a conduzir os golpistas em direção a um “comando político do país que desrespeitasse as eleições”.

Aos correspondentes, Padilha responsabilizou, em parte, o ex-presidente Jair Bolsonaro pelos ataques à democracia que perpetrou ao longo do mandato, e reafirmou a confiança no comando das Forças Armadas pelo ministro da Defesa, José Múcio.

“Nós sabemos que temos várias instituições que foram contaminadas pelo ódio bolsonarista, pela prática golpista da extrema-direita brasileira, que tem similaridade com outros movimentos de todo o mundo, de não reconhecer a democracia e as instituições”, pontuou. “Temos registros de indivíduos que fazem parte da polícia militar, ou mesmo fazem parte das Forças Armadas brasileiras, que, de uma certa forma, colaboraram, foram negligentes com os terroristas no domingo, e serão apuradas as responsabilidades e punidos (os responsáveis) de acordo com a lei brasileira”.

As satisfações prestadas à imprensa internacional vêm no contexto da maciça solidariedade que o presidente Lula recebeu após os ataques. Líderes como o presidente Joe Biden, dos Estados Unidos; Dimitry Peskov, porta-voz do governo russo; Rishi Sunak, primeiro-ministro britânico; e Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália, demonstraram repúdio às tentativas de derrubar o governo por meio de golpe de Estado. O presidente da França, Emmanuel Macron, usou as redes sociais para dizer em português que “a vontade do povo brasileiro e as instituições democráticas devem ser respeitadas! O Presidente Lula pode contar com o apoio incondicional da França”.