O Povo, 07/10/2020. Versão on-line

A boiada não pode passar

Jaques Wagner



A defesa do Meio Ambiente tem orientado meu mandato. Inclusive, já utilizei este  espaço outras vezes para tratar do tema. E o faço não porque está na moda ou por  qualquer disputa política, mas por estar convicto da emergência ambiental que  vivemos. 

Como senador de oposição, pauto minhas ações não a partir dos erros ou polêmicas  do atual governo. Priorizo uma agenda propositiva e benéfica para a população, que  não ganha nada com brigas, mas espera de nós um trabalho capaz de reduzir  desigualdades, garantindo emprego e prosperidade para as famílias brasileiras. 

Porém, as ações devastadoras do governo, destruindo as riquezas naturais e nos  expondo a um constrangimento mundial, não param de surpreender. 

Na última semana, o Conselho Nacional do Meio Ambiente, cuja composição já havia  sido alterada para reduzir a participação da sociedade civil, revogou portarias de  proteção do nosso litoral – especialmente restingas e manguezais, áreas no entorno de  reservatórios de água, projetos de irrigação e autorizando a queima de poluentes,  como defensivos agrícolas, que infectam o ar. Tudo a toque de caixa, sem debates ou  estudos técnicos que justifiquem. 

O que desejam é facilitar a ação de especuladores que querem lucrar com a destruição  das riquezas naturais e prejudicar milhares de trabalhadores que vivem da pesca. 

Tão logo esta absurda decisão foi tomada, apresentei no Senado um projeto para  suspender a revogação que põe em risco cerca de 1,6 milhão de hectares da orla  brasileira. Também ingressei com uma ação para que o STF reconheça esta revogação  como inconstitucional. Espero que o Congresso e o Supremo decidam pelo bom senso  e protejam nosso patrimônio natural. 

Não há contradição em crescer e se desenvolver ao mesmo tempo em que  preservamos o Meio Ambiente. Essa é a inteligência moderna. Só que, infelizmente,  este governo se pauta pelo que há de mais retrógrado. 

Na democracia, o diálogo é o melhor caminho. E sem ouvir ninguém estão tentando  detonar tudo. Se nada fizermos, a boiada seguirá passando, como anunciou o ministro  da destruição do Meio Ambiente. E quem pagará o preço serão as novas gerações, que herdarão o aquecimento global e a desertificação dessa política destrutiva. Conter a  boiada, portanto, é vital para o Brasil e para a humanidade.