O Povo, 02/12/2020. Versão on-line

A renovação que sai das urnas

Jaques Wagner


As eleições municipais atualizam o quadro político e, obviamente, suscitam uma série de análises.  Para quem se apressa em tirar a consequência de 2022, acho precipitado. É bom lembrar que a  disputa municipal corre em outro circuito. 

Não dá para negar, no entanto, que o estilo do atual presidente foi derrotado. Prevaleceu no país  uma disputa civilizada. E, obviamente, porque ele não teve nenhuma vitória expressiva. Ao  contrário. Onde colocou o dedo, deu errado. 

A fotografia que é de uma maior distribuição partidária de poder, especialmente entre o centro e a  direita mais tradicional, embora não haja nenhuma sigla que tenha saído da eleição como o partido  do futuro. Houve uma tendência de continuidade em muitos lugares, em razão da avaliação dos  gestores e também como consequência do trabalho diante da pandemia. O PT, pela primeira vez  desde 1985, quando Maria Luíza Fontenele foi eleita em Fortaleza, não vai governar nenhuma  capital. Não é o que desejávamos, mas também o partido não foi enterrado, para a tristeza de  alguns e para a alegria de outros. É lógico que no final quem conta a história é quem vence. Mas  não teve ninguém que, isoladamente, tenha se consolidado. 

Uma notícia muito alvissareira foi a renovação geracional, especialmente na esquerda. As  candidaturas de Guilherme Boulos, em São Paulo, Manuela D’Ávila, em Porto Alegre, e Marília  Arraes e João Campos, em Recife, representam um bem-vindo arejamento de quadros políticos  nessa eleição, que se consolidam como opções viáveis para outros projetos. 

Considero como elemento fundamental que esta experiência eleitoral ajuda o nosso campo a  evoluir rumo à construção de uma frente progressista, unida e forte para o desafio de derrotar o  projeto de retrocessos e ódio que governa o Brasil. Somando nomes, programas e experiências,  temos a capacidade de concretizar um campo bastante forte para 2022. 

Creio que este é o caminho sólido para oferecermos ao país uma nova perspectiva, capaz de  superar esse momento de grandes dificuldades, oferecendo não só novas alianças, mas novos  conteúdos. Um caminho capaz de embalar sonhos e a esperança de um país mais solidário, que  agregue desenvolvimento econômico, social e ambiental. Parabéns para a democracia, parabéns  para quem ganhou. E quem perdeu, se prepare para a próxima.