O Povo, 18/08/2021. Versão on-line

Comparação desonesta

Jaques Wagner


O fosso em que o Brasil se encontra parece não ter fim. Com um governo fraco e um  presidente cada vez mais acuado, o Congresso tenta avançar numa agenda de  retrocessos. A forma açodada com que tentam mudar a legislação eleitoral, reformada  há quatro anos e que não foi testada numa eleição nacional, é um bom exemplo. Para  além desta iniciativa, que trabalharei contra no Senado, outro assunto chama atenção.  Diante da incapacidade em concretizarem a tão falada terceira via, parte da sociedade,  setores políticos, empresariado e mídia insistem em criar uma equivalência entre o ex presidente Lula e o atual presidente. 

Uma comparação desonesta intelectualmente. Não há paralelo possível entre os  personagens. Tampouco, entre suas experiências. Em toda sua vida sindical e política,  Lula é reconhecido pela sua capacidade de conciliação e diálogo. Como presidente, foi  um verdadeiro estadista, responsável por uma revolução social e de autoestima no  Brasil, além de liderar uma cruzada mundial contra a fome. Sempre respeitou o jogo  democrático e as instituições, mesmo diante de decisões injustas. 

Lula foi o maestro de um período de ouro da nossa economia, com crescimento em  todos os setores, que surfaram num momento em que a imagem do Brasil era  altamente positiva e a partir de políticas de incentivo fiscal, cresceram e geraram  empregos. O cenário caótico de hoje dispensa comentários. Falar do passado recente,  no entanto, é necessário para ajudar muitos empresários a se recuperarem da amnésia  ou refletirem sobre hipocrisia. 

Que saiam da plateia e decidam dar as caras diante do atual contexto. Se não estão  satisfeitos com as opções colocadas, que apresentem ou invistam na formação de um  candidato para 2022. Só não fiquem nessa posição patética de equiparar pessoas e  projetos sem qualquer semelhança. Isso é debochar da inteligência dos brasileiros.  Desconfio que seja uma tática para acabar justificando um novo apoio ao atual  governo, responsável pela destruição do país. 

Seguimos com a democracia e dispostos a trabalhar pelo presente e pelo futuro do  Brasil, respeitando a Constituição e com a missão de fazer mais por quem mais precisa.  Por sinal, com nosso líder maior visitando o Nordeste, conversando com nossa gente e  trazendo de volta a esperança. É assim que seguiremos.