Correio Braziliense, n. 21850, 12/01/2023. Política, p. 3

Cappelli: atos não se repetirão

Rafaela Gonçalves


O interventor federal, Ricardo Cappelli, afirmou que o então secretário de Segurança do Distrito Federal e ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, Anderson Torres, exonerado após os atos golpistas do último domingo, foi aos Estados Unidos antes do início oficial de suas férias. “Viajou, inclusive, sem estar de férias. As férias dele, publicadas no Diário Oficial, valiam a partir do dia 9. Então, no dia 8, o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal ainda era o senhor Anderson Torres”, enfatizou.

Torres embarcou com a família para Orlando na véspera das invasões em Brasília. Ele teve sua prisão decretada na terça-feira pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), por omissão nos ataques e na depredação a prédios dos Três Poderes.

Após a decretação da prisão, Torres se manifestou por meio das redes sociais. Disse que interromperia as férias e voltaria ao Brasil para se entregar à Justiça, no entanto, a Polícia Federal ainda não tem informações sobre o retorno dele.

Cappelli voltou a colocar em questão a ida de Torres para o exterior. “É muito estranho que o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal assuma a sua função no dia 2, exonere e troque todo o comando — quase todo o comando da secretaria — e viaje. E, alguns dias depois, aconteça o que aconteceu aqui em Brasília. Isso é coincidência?”, ressaltou ele que, na terça-feira, chegou a falar em “sabotagem” por parte de Torres.

Ante articulações convocando para novas manifestações contra o governo, o interventor frisou que todo o efetivo está a postos para evitar os atos de vandalismo que aconteceram no domingo. “Não há hipótese alguma de se repetir na capital federal os fatos inaceitáveis que aconteceram no último dia 8”, declarou.

Ele defendeu manifestações democráticas e pacíficas, mas sustentou que não serão admitidos novos atos ilegais. “Aos que pretendem repetir: a lei será cumprida. Não será admitido. Nossa democracia é plena, o direito à livre manifestação será sempre respeitado dentro daquilo que prevê a Constituição”, disse. “O direito à manifestação não se confunde com atentado à instituição democrática, com ataque ao patrimônio público e à democracia. A esses, o que tenho a dizer é que a lei será cumprida. Eles serão tratados com o rigor da lei.”

Identificação

Segundo Cappelli, a mensagem é de “tranquilidade e normalidade”. “Há uma tentativa de criar um ambiente de crise no Brasil, mas não há crise”, garantiu.

Questionado sobre os 1,5 mil detidos, com a desmobilização do acampamento em frente ao QG do Exército, o interventor informou que apenas idosos com comorbidades e mulheres com crianças foram liberados, por uma “questão humanitária”, mas que ninguém saiu da sede da Academia de Polícia sem ser cadastrado. “Estão todos identificados. Caso haja alguma digital, ou essas pessoas sejam vistas em outro procedimento criminal, travestido de manifestação, passeata, aí, sim, serão recolhidas, e será dado o tratamento legal”, destacou.

Cappelli aproveitou para reforçar que tem “plena confiança” nas forças de segurança do DF e que o ocorrido no domingo foi ocasionado por uma falha no comando. “Temos o total apoio do efetivo, das corporações e dos homens de segurança, que têm compromisso com a República e com o Estado democrático de direito”, afirmou, lembrando a operação “exemplar” vista durante a posse do presidente Lula.

O número de homens destacados na operação não foi informado por Cappelli, mas o interventor garantir que há “mobilização máxima” das forças de segurança. “Estamos com todo o efetivo da segurança pública do Distrito Federal mobilizado, em operação articulada, com o apoio da inteligência, da nossa inteligência, com o apoio de toda inteligência da Polícia Federal e com a colaboração e a presença de todo o nosso efetivo de segurança aqui do Distrito Federal, da Força Nacional, comandada pelo secretário nacional de Segurança Pública, o coronel Tadeu Alencar.”