Título: Lula critica cassação por falta de provas
Autor: Fernanda Rocha e Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 02/12/2005, País, p. A4

Presidente e ministros atacam Câmara, que teria tomado ''decisão política''

BRASÍLIA - Depois de se calar durante a maior parte do processo contra o agora ex-deputado e ex-ministro José Dirceu (PT-SP), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em discurso, ter sentido o impacto da cassação. Com o semblante carregado, ele lamentou e criticou a decisão da Câmara pela perda do mandato parlamentar do ex-ministro da Casa Civil, diante dos integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o Conselhão. - Faltou provar para a sociedade que o Zé tinha cometido a quebra de decoro parlamentar de que foi acusado. O dado concreto é que poderiam, antes de julgá-lo, ter provado o que diziam do José Dirceu - comentou o presidente. Lula admitiu, porém, a soberania do Congresso na decisão. Dos ministros que concederam entrevista ontem, apenas Antonio Palocci, da Fazenda, evitou comentar a cassação de Dirceu. Ele também está sob bombardeio das denúncias de corrupção. Questionado sobre a decisão da Câmara, ele limitou-se a criticar a apuração das denúncias. - Não colocaria a questão específica do deputado José Dirceu, meu companheiro. O problema é que todos têm a expectativa de que as instituições funcionem, que façam a apuração adequada das questões apontadas - disse o ministro, que esteve ontem no Rio. Palocci afirmou que os responsáveis devem seguir a condução adequada, mas sem apressar as investigações. - Uma crise prolongada, sem caminho significa demonstrar fraqueza, e não força, das instituições. O articulador político do governo, ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, criticou a Câmara, sugerindo que Dirceu teve o mandato cassado por motivos pessoais. Ele disse que a decisão foi ''traumatizante para a democracia.'' - A relação no parlamento faz amigos e inimigos. Em um julgamento, este elemento não deveria existir. Wagner disse estar triste com o desfecho do processo e comparou a cassação à pena de morte. - Para mim, cassação está para o político como a pena de morte está para uma pessoa comum. E para ser executada tem de haver convicção plena, absoluta e material - disse Wagner, que participou ontem da reunião do Conselhão. Já o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, classificou como ''injusta'' a cassação, por ter sido, para ele, um julgamento político. - Foi uma cassação injusta, que não se baseou em provas, mas, ao contrário, foi um julgamento puramente político. Eu respeito a soberania do Congresso, mas essa é minha avaliação. Sei que não se conseguiu provar nada de substancial contra Dirceu - disse. O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, que participou de almoço com Palocci, afirmou que a cassação de Dirceu não surtirá efeitos na economia, porque o ex-deputado deixou de afetar o governo quando saiu da Casa Civil. Mantega concorda que a cassação foi uma decisão política da Câmara.