Título: Esperança para países pobres
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Fonte: Jornal do Brasil, 02/12/2005, Internacional, p. A16

Sobrevivência triplica com drogas e alimentação adequada

BOSTON - O tratamento de baixo custo, com drogas genéricas, pode triplicar o índice de sobrevivência dos doentes de aids nos países pobres, demonstra pesquisa. No estudo, realizado no Haiti, os portadores de HIV receberam os remédios junto com acompanhamento nutricional e tratamento de tuberculose. Foi observada uma taxa de sobrevivência de 87% para adultos e 98% para crianças. O índice é comparável aos obtidos nos centros médicos dos Estados Unidos. ''O resultado é realmente importante e avaliza a decisão de fazer com que os programas sociais já existentes sejam combinados com uma suplementação alimentar dos pacientes'', afirmaram Jim Yong Kim e Charlie Gilksof, da Organização Mundial de Saúde, no editorial do The New England Journal of Medicine, onde o trabalho foi publicado, ontem. Normalmente, apenas 30% dos indivíduos com aids sobrevivem por um ano em países em desenvolvimento, como o Haiti. A incidência da doença no país é de 3%, entre a população adulta. Um total de 1.004 moradores com aids de Porto Príncipe - capital do Haiti, o país mais pobre das Américas - participaram do estudo, que começou em 2003. Do grupo, 94 eram crianças. Os pacientes receberam, além dos anti-retrovirais, vitaminas e, em alguns casos, cesta básica com arroz, feijão e vegetais. Subnutrição, poucos testes de laboratório e o risco de complicações têm aumentado as dúvidas de alguns pesquisadores sobre a eficácia do tratamento anti-HIV nos países pobres. - O resultado vai acabar com várias preocupações. Os céticos vão se surpreender - declarou o autor do estudo Daniel Fitzgerald. Para o especialista, os benefícios desse tipo de tratamento vão além da ajuda aos infectados. - Em uma perspectiva mais ampla, a pessoa com HIV é geralmente uma mãe ou um pai. Conseguindo levar esses indivíduos de volta ao trabalho ou a terem uma vida normal, vai estar se ajudando todos naquela família - declarou Fitzgerald, que também é membro da Weill Medical College, da Universidade de Cornell. O trabalho foi realizado em conjunto com o GHESKIO (Grupo Haitiano para o Estudo do Sarcoma de Kaposi e Infecções Oportunistas), uma organização que trabalha no governo do país e ajuda a treinar pesquisadores, além de dar assistência a portadores do vírus HIV. ''Tem sido falado que a nossa geração será julgada pela nossa reação à pandemia de HIV e aids'', registraram Kim e Gilks, na revista médica. ''Muita coisa ainda precisa ser feita, mas o projeto do GHESKIO e a resposta de tantos outros países em desenvolvimento dão esperança de que o julgamento final seja menos duro do que tememos''. A maioria dos pacientes que participaram da pesquisa tinha uma renda de menos de um dólar por dia. Fitzgerald e sua equipe informaram que o custo do tratamento, que leva a combinação de três drogas, foi de, aproximadamente, US$ 500 para genéricos e US$ 750 para os remédios fabricados nos grande laboratórios. - Estimamos um custo anual (incluindo medicamentos) de cerca de US$ 1.600 - afirmou Fitzgerald. O pesquisador realça que a lição aprendida no Haiti ''pode ser aplicável em vizinhanças pobres nos Estados Unidos'', onde a assistência aos infectados com aids é precária.