Título: BC esfria euforia por juro menor
Autor: Mariana Carneiro, Fernanda Rocha e Karla Corrêa
Fonte: Jornal do Brasil, 02/12/2005, Economia & NEGÓCIOS, p. A17

Economistas prevêem queda lenta, após ata e reunião com autoridade monetária

SÃO PAULO - A reunião do Banco Central com economistas que atuam no mercado financeiro e a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária do BC (Copom) caíram como um banho de água fria em quem esperava um corte maior nos juros em dezembro. Depois do resultado ruim do Produto Interno Bruto (PIB), boa parte do mercado passou a considerar a possibilidade de corte de 0,75 ponto percentual na Selic, atualmente em 18,5% ao ano. Depois dos eventos de ontem, um afrouxamento mais forte da política monetária passou a ser mais improvável. A ata, novamente cautelosa, indica continuidade do ritmo moderado de corte e a reunião mostrou um BC pouco sensível à queda do PIB. Economistas presentes ao encontro afirmaram que integrantes do BC passaram boa parte da reunião minimizando a queda do PIB, de 1,2% no terceiro trimestre. - A impressão que tive é de que eles não acreditaram nos dados do IBGE, chegando a afirmar que alguns números, em especial os referentes ao setor agrícola, estavam desatualizados - disse uma fonte presente ao encontro. O setor agrícola foi o que apresentou o pior desempenho no trimestre, com queda de 3,4%. Na reunião, o BC lembrou dados históricos de revisões do PIB, feitas pelo IBGE, que mostram uma evolução para melhor nos dados. O PIB do segundo trimestre de 2003, exemplo citado no encontro, foi revisto três vezes, e evoluiu de uma queda de 1,6% para 0,6%. - A impressão que deu é que eles não confiam nos dados do IBGE e dificilmente o PIB ruim será motivo para cortes maiores nos juros - disse outro executivo que também esteve no encontro. A ata do Copom, divulgada ontem, corroborou a percepção de que o BC deve cortar os juros novamente em 0,50 ponto em dezembro. - O BC se mostrou preocupado com os últimos dados de inflação e, em relação ao crescimento, a ata considera a retração econômica pontual - disse Luiz Fernando Lopes, economista-chefe do Banco Pátria. - A ata é bem clara e indica que o BC quer esperar mais para ter certeza na condução da política monetária. Eles estão desconfortáveis com a inflação corrente que subiu e acham que a queda da atividade vai se reverter - afirmou Adauto Lima, economista-chefe do WestLB.