Título: Palocci culpa crise política pela retração
Autor: Mariana Carneiro, Fernanda Rocha e Karla Corrêa
Fonte: Jornal do Brasil, 02/12/2005, Economia & NEGÓCIOS, p. A17

Lula afirma que resultado no trimestre deve servir de alerta para o governo

RIO e BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, admitiu ontem que as turbulências no campo político afetaram a atividade econômica no terceiro trimestre. O Produto Interno Bruto (PIB) caiu 1,2% entre julho e setembro, frente ao período anterior. Segundo o ministro, a crise política abalou as expectativas, tanto de consumidores quanto de empresários. - Consumidores e investidores tomaram uma atitude de cautela. Houve impacto sobre o investimento e o consumo de bens duráveis caiu fortemente - reconheceu Palocci que, no entanto, segue otimista em relação ao último período do ano. - As expectativas vêm se recuperando. A força da economia é maior do que a força da crise política. Mas Palocci disse não imaginar que esse descolamento vá continuar para sempre. - A economia brasileira dá de ombros se a crise política seguir por três anos? Acredito que não. Mas acabar com a crise não significa não fazer investigações. As instituições devem funcionar com eficiência e concluir os trabalhos - disse, referindo-se ao trabalho das Comissões Parlamentares de Inquérito no Congresso. O ministro participou ontem de almoço com empresários na Federação das Indústrias do Rio (Firjan), em seu apoio. No evento, Palocci reconheceu que o rígido combate à inflação também pesou sobre o desempenho da economia. - Controlar a inflação tem custos - admitiu, referindo-se à taxa básica de juros (Selic), hoje em 18,5% ao ano e que chegou a atingir 19,75% ao ano no início de 2005. Em termos reais, ou seja, descontada a inflação, é a maior taxa de juros do mundo. Para Palocci, o debate sobre a ''dose'' do remédio é pertinente. Criticou, porém, quem ataca o sistema de metas de inflação. - Uma coisa é discutir a flexibilidade da ação, outra é discutir alternativas. E não há novidades nesse ponto. Essas alternativas já foram experimentadas no passado, nós já assistimos a esse filme, como espectadores. E elas são repetidas pelas mesmas pessoas que as tentaram no passado - criticou Palocci. O ministro aproveitou para reforçar sua confiança no crescimento econômico, aliado à estabilidade de preços, e repetiu que o resultado do PIB no trimestre é ''um momento fora da curva''. Presente à cerimônia, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, preferiu tirar da política a culpa pela retração no PIB. - Não faço associação da queda do PIB com a crise política. Pelo contrário, a economia esteve vacinada dos problemas políticos durante todo esse tempo. A crise começou há meses e não se refletiu em queda de confiança no país. Nós não sentimos isso. Mantega saiu em defesa do ministro. - O ministro Palocci representa uma política econômica que é bem-sucedida e que vem sendo posta em prática desde o início do governo Lula. Não é o fato de que tivemos uma desaceleração momentânea do PIB que vai ofuscar todas as conquistas obtidas no plano econômico desse país - ponderou Mantega. Em Brasília, num clima bem menos ameno, durante reunião no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, composto por empresários, Lula voltou a afirmar que não fará qualquer mudança na política econômica do governo baseada em interesses eleitorais. Mas reconheceu que a queda do PIB deve servir como alerta para o governo buscar as falhas na condução da economia e corrigi-las, de forma a não prejudicar os resultados em 2006. Na avaliação do presidente, existem indícios de que a economia apresentará crescimento real no quarto semestre. Ele ressalvou que ainda assim o governo precisará enviar ao mercado sinais mais claros de que, de fato, a taxa básica de juros entrou em uma rota descendente, ou que o governo não deve interferir na política cambial, para transmitir otimismo ao empresariado.

- Não podemos permitir, em hipótese alguma, que a gente não comece 2006 dando sinais para a sociedade de que o crescimento vai ser mais rigoroso, mais forte do que foi em 2005, 2004.

Eu nem conto 2003 porque esse foi o ano em que preparamos a casa - afirmou Lula.