Título: O juízo final de Dirceu
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 01/12/2005, País, p. A2

A longa batalha política, judicial e de opinião pública que durante 120 dias foi empreendida por José Dirceu para preservar o mandato não se mostrou suficiente para livrá-lo da cassação. O ex-chefe da Casa Civil foi derrotado por larga margem: 293 a 192, com oito abstenções. Quando foi atingido o quórum da cassação ¿ 257 votos ¿ não houve comemoração. Dirceu ¿ que deixara o recinto antes da votação ¿ ficará inelegível até janeiro de 2015. Ou seja, na melhor das hipóteses só poderá concorrer novamente nas eleições municipais de 2016, quando estará com 70 anos. O ex-chefe da Casa Civil deixa, assim, a cena política menos de três anos depois de ter chegado ao poder como o mais poderoso auxiliar de Lula e artífice da composição eleitoral que o levou ao Planalto.

No discurso, como que antevendo a cassação, Dirceu disse que continuará lutando, mesmo sem mandato, para provar sua inocência e para derrubar as acusações feitas contra ele por Roberto Jefferson.

Minutos antes de chegar ao Planário, o deputado recebeu um alento de última hora: em um telefonema, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lhe transmitiu o prognóstico de que haviam aumentado as chances de absolvição.

Às 22h, antes da votação, a avaliação da maioria dos líderes de partido era diferente: davam como certa a perda do mandato.

O deputado foi aplaudido três vezes durante o discurso de 41 minutos que fez na tribuna da Câmara. Afirmou que a Casa não deveria se transformar em ¿tribunal de exceção¿ e que não poderia ser cassado porque não haveria provas de que quebrou o decoro parlamentar.

¿ Cheguei a um ponto em que a minha situação se transformou em agonia, em degola, em inferno, em fuzilamento. Eu não sou réu confesso. Cometi muitos erros políticos e estou pagando por eles. Mas tenho as mãos limpas. Argumentou que não poderia ser cassado por ter sido presidente do PT e por ter coordenado a campanha do presidente Lula :

¿ Quero repetir o que disse nos últimos seis meses: não há prova contra mim, eu não quebrei o decoro parlamentar.

Dirceu preferiu usar todo o tempo destinado à defesa no plenário e dispensou as palavras de seu advogado. Respondeu às acusações feitas pelo relatório que pede sua cassação e negou ser o chefe do mensalão, ter influído em decisões dos fundos de pensão, ter negociado financiamento irregular para campanhas de partidos da base governista e ter usado do cargo de ministro da Casa Civil para defender interesses próprios.

O deputado tentou, em suas declarações, emplacar a tese de que sua cassação prejudicará a imagem da Câmara. Isso aconteceria caso os parlamentares insistissem na avaliação de que a Casa aprovou projetos de interesse do governo, como as reformas da Previdência e Tributária, por conta da suposta compra de votos.

Dirceu deixou subentendido que se os deputados o cassassem por ser o ¿chefe do mensalão¿ estariam assumindo que se venderam.