O Globo, n. 32513, 13/08/2022. Política, p. 9

Malta tenta voltar ao Senado e dobra a aposta em Bolsonaro

Bernardo Mello


Primeira pessoa a ter a palavra no pronunciamento da vitória de Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais de 2018, Magno Malta (PL) foi um dos raros aliados que não conseguiu surfar a onda bolsonarista em seu estado. Quatro anos depois da derrota na tentativa de reeleição ao Senado, numa disputa em que o Espírito Santo elegeu dois senadores novatos ligados às forças de segurança — o delegado licenciado Fabiano Contarato, hoje no PT, e o instrutor militar Marcos do Val (Podemos) —, Malta redobrou nesta eleição a aposta no voto evangélico junto com a associação a Bolsonaro. Após um período mais recluso desde o revés eleitoral, o ex-senador reapareceu na sabatina do ex-advogado geral da União André Mendonça na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, em dezembro do ano passado, junto a lideranças evangélicas que pressionavam pela aprovação de sua indicação para o Supremo Tribunal Federal (STF).

Na mesma época, Bolsonaro se filiou ao PL, partido de Malta, que havia sido escanteado na formação do governo em 2019. Ambos selaram a reaproximação e Malta passou a integrar a comitiva presidencial em viagens pelo país. Interlocutores de Malta avaliam que o ex-senador precisará driblar sua rejeição no eleitorado capixaba, causada, segundo essas avaliações, por fatores que vão desde sua proximidade ao governo Lula no passado até o divórcio conturbado com a deputada e cantora gospel Lauriete, em 2018. Para esses interlocutores, um impulso crucial para a campanha de Malta se deu com a retirada da candidatura do exprefeito de Colatina Sérgio Meneguelli ao Senado. Meneguelli, tido como nome popular e forte em pesquisas internas, foi rifado pela cúpula nacional do Republicanos, partido aliado de Bolsonaro, depois de uma entrevista em que disse não ter “nada de conservador”.

Em seu lugar, o partido lançou o deputado estadual Erick Musso, presidente da Assembleia Legislativa. Musso, de 35 anos, é correligionário do prefeito da capital, Vitória, o delegado Lorenzo Pazolini, e tenta se cacifar como uma terceira via ao Senado. Ele recebeu apoio do União Brasil, presidido no estado pelo deputado federal Felipe Rigoni. No palanque do governador Renato Casagrande (PSB), a senadora Rose de Freitas (MDB) tentará a reeleição amparada na capilaridade dos partidos da aliança governista. Juntos, os partidos coligados a Casagrande elegeram 50 dos 78 prefeitos no estado em 2020.

No ano passado, a senadora foi alvo de operação da Polícia Federal por conta de supostos desvios envolvendo a Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa), órgão federal que empregou seu irmão e funcionários de seu gabinete parlamentar. A aliança com Casagrande, ao passo em que ajuda o governador a acenar ao centro, também consolida a aproximação de Rose com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com quem se encontrou em Brasília junto a outras lideranças do MDB neste ano.