Título: Pastoral critica CPI da Terra
Autor: Paulo Celso Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 01/12/2005, País, p. A8

O presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Dom Tomás Balduíno, criticou duramente ontem o relatório final da CPI da Terra que classifica as invasões a fazendas como ''crime hediondo'' e os invasores como praticantes de ''ato terroristas''. A CPT e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) emitiram notas oficiais contra o texto final da comissão.

Balduíno afirmou que o texto é ''truculento, discriminatório, classista e cruel''. A aprovação do relatório paralelo do deputado ruralista Abelardo Lupion (PFL-PR) aconteceu depois de a CPI derrubar o relatório original do deputado João Alfredo (PSOL-CE), que era a favor da reforma agrária e denunciava a falta de distribuição de terras como grande causadora dos conflitos no campo.

- O relatório aprovado mais uma vez manifesta a intocabilidade da propriedade de terra e a estrutura arcaica do nosso país. O texto mostra um combate às organizações do campo sobretudo por ter sido assumido pelo deputado Lupion, que é historicamente ligado à grilagem de terras no Paraná - destacou Dom Tomás Balduíno.

Segundo a CPT, somente neste ano, 36 trabalhadores rurais morreram em conflitos no campo em todo o Brasil, 16 delas só no Pará, Estado onde a Irmã Dorothy Stang foi assassinada em fevereiro. Segundo a pastoral, há 170 militantes ameaçados de morte no país.

- Agora, as eternas vítimas da violência e do latifúndio serão apresentadas como responsáveis pela violência. O grave é que absolutiza mais uma vez a propriedade da terra e se perde o valor social dela, que é constitucional - alertou o religioso.

Na nota oficial emitida pelo MST, o movimento afirma que o relatório aprovado pela CPI cumpre ''objetivos criminosos e odiosos da União Democrática Ruralista e seus aliados''. O MST afirma que o texto de Lupion ''silencia sobre o fato incontestável de que nos últimos três anos foram libertados cerca de 12.500 trabalhadores encontrados em situação de escravidão em mais de 400 fazendas; silencia com o número assustador de 1.500 trabalhadores mortos nos últimos 20 anos''.

O presidente da União Democrática Ruralista, Luis Nabhan Garcia, elogiou o relatório aprovado na CPI.

- Felizmente aquela afronta ao estado de direito que era o relatório do João Alfredo foi recusado pela maioria. Era um relatório inteiramente caluniosos que inverteu todos os valores possíveis. Mais uma vez a democracia se fez presente. A radicalização desses parlamentares é um negócio péssimo, se João Alfredo elaborasse um relatório imparcial seria aprovado, mas ele quis radicalizar, tomou aquela surra - atacou.

Um dia depois de conseguir na Justiça o direito de aguardar em liberdade o julgamento de uma condenação a prisão, o coordenador do MST José Rainha Jr. reapareceu no Pontal do Paranapanema (oeste de SP) anunciando a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à região e criticou o relatório final da CPI da Terra:

- Não era de se esperar muita coisa desse povo neofascista, neonazista. Só cabe isso na cabeça dessa bancada ruralista que tem 500 anos de atraso. Se pudessem, eles concentrariam todas as terras do país nas suas mãos - afirmou.