O Globo, n. 32516, 16/08/2022. Política, p. 4

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Bernardo Mello
Gabriel Sabóia


A primeira pesquisa Ipec da corrida presidencial após a formalização das candidaturas, divulgada ontem, aponta o ex-presidente Lula (PT) na liderança, com 44% das intenções de voto. O presidente Jair Bolsonaro (PL) aparece na segunda colocação, com 32%. Os números indicam a possibilidade de vitória de Lula no primeiro turno da disputa à Presidência. No somatório dos votos válidos — excluídos brancos, nulos e os que não responderam —, método usado pela Justiça Eleitoral para declarar o resultado da eleição, o petista chega a 52%, enquanto Bolsonaro fica com 37%.

Em um sinal de afunilamento da disputa pela Presidência ainda antes do início oficial da campanha, que ocorre hoje, e do horário eleitoral gratuito em rádio e TV, que começa no dia 26, apenas outros três candidatos pontuaram acima de 1%, segundo o Ipec. Ciro Gomes (PDT) aparece com 6%, empatado no limite da margem de erro com Simone Tebet (MDB), que tem 2%. Vera Lúcia (PSTU) marcou 1%.

O desempenho atual de Bolsonaro é superior ao identificado pelo Ipec no fim do ano passado. Em dezembro, na última pesquisa presidencial realizada pelo instituto em âmbito nacional, Lula aparecia com 48% das intenções de voto no cenário mais ampliado de candidaturas, desempenho que já sinalizava uma possível vitória do petista em primeiro turno. Bolsonaro, à época, aparecia com 21%.

Os dois levantamentos, porém, não podem ser diretamente comparados por conta de mudanças na lista de candidatos. Na ocasião, foram incluídos nomes como o do ex-ministro Sergio Moro (União), do deputado André Janones (AvanteMG), do ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB), e do ex-deputado Cabo Daciolo (PDT), que acabaram não registrando candidaturas presidenciais.

Na pesquisa divulgada ontem pelo Ipec, que mediu também os desempenhos de Lula e de Bolsonaro em um eventual segundo turno, o ex-presidente marcou 51% das intenções de voto, contra 35% do atual chefe do Executivo federal. Neste caso, brancos e nulos somaram 9%, enquanto 5% não souberam ou não quiseram responder.

O levantamento, que tem margem de erro de dois pontos percentuais, é o primeiro de uma série de pesquisas contratadas pela TV Globo, que terá divulgação semanal pelo instituto, fundado por executivos do antigo Ibope.

Auxílio turbinado

O Ipec foi a campo entre sexta-feira e o último domingo, período que corresponde à reta final do prazo para registro de candidaturas, encerrado ontem. O levantamento ocorreu após o período de convenções partidárias, que terminou no dia 5, quando as siglas oficializaram suas chapas. Foram realizadas 2 mil entrevistas presenciais em 130 municípios de todas as regiões do país.

A pesquisa ocorreu ainda em meio ao pagamento da primeira parcela de R$ 600 do Auxílio Brasil, programa lançado pelo governo Bolsonaro para substituir o Bolsa Família. O valor atual, que começou a ser pago na última terça-feira e se estenderá até dezembro, representa um acréscimo de 50% em relação ao benefício mínimo anterior, de R$ 400.

O aumento do benefício é uma das principais apostas de Bolsonaro para diminuir a vantagem de Lula, especialmente entre eleitores mais pobres e de municípios menores — que votaram majoritariamente no candidato do PT, Fernando Haddad, na última eleição presidencial, de acordo com as pesquisas da época. O atual presidente também se ampara em outras ações recentes, como o estabelecimento de um teto para cobrança do ICMS sobre combustíveis — sancionado em junho, após aprovação do Congresso —, para melhorar a avaliação de seu governo ao longo da campanha.

Segundo o levantamento do Ipec, 43% dos entrevistados consideram o governo Bolsonaro ruim ou péssimo, enquanto 29% avaliam a gestão como ótima ou boa. Embora não se tratem de pesquisas comparáveis entre si, por terem diferentes metodologias e amostragens, o índice vai de encontro ao detectado em pesquisas recentes de outros institutos. O Datafolha, por exemplo, apontou em julho que a reprovação ao governo Bolsonaro era de 45%, enquanto a aprovação era de 28%.

Na última pesquisa nacional do Ipec, em dezembro do ano passado, 55% consideravam a gestão de Bolsonaro como ruim ou péssima, enquanto 19% avaliavam o governo como ótimo ou bom.

A pesquisa divulgada ontem, registrada pelo Ipec no TSE na última terça-feira, incluiu na lista de candidatos o coach Pablo Marçal (Pros), que havia registrado sua candidatura. Ontem, no entanto, o Pros formalizou a revogação da chapa de Marçal e optou por indicar apoio ao ex-presidente Lula.

Já o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), que está em prisão domiciliar por decisão do STF por ataques à democracia, não foi incluído na lista de candidatos pelo Ipec porque seu nome só foi oficializado após o registro da pesquisa.

Presidenciáveis nas ruas

No primeiro dia de campanha oficial, Lula, Ciro e Tebet escolheram a cidade de São Paulo para circular como candidatos. O petista vai à porta de uma fábrica em São Bernardo do Campo; o pedetista fará uma caminhada no bairro de Guaianases,e a senadora se reunirá com representantes do setor cultural na Zona Oeste da capital.

Já Bolsonaro escolheu Juiz de Fora para o pontapé inicial da campanha, para relembrar o marco da eleição de 2018, quando sofreu um atentado a faca na cidade mineira.