Título: Bélgica exporta terror para o Iraque
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Fonte: Jornal do Brasil, 01/12/2005, Internacional, p. A9

A polícia da Bélgica prendeu ontem 14 pessoas suspeitas de fazerem parte de uma rede de recrutamento de terroristas para atuar no Iraque. Os agentes acreditam que os detidos têm ligação com uma belga que, no dia 9 de novembro, cometeu um ataque suicida contra um comboio americano, no Sul de Bagdá. Convertida ao Islamismo para se casar com um muçulmano, foi a primeira mulher européia a participar de um atentado terrorista.

A operação policial, que envolveu 380 agentes, ocorreu na madrugada de ontem em Bruxelas e Antuérpia. Nove belgas, dois tunisianos e três marroquinos foram detidos de acordo com a nova lei antiterror do país, que definiu terrorismo como crime.

Durante a ação, não foram encontrados explosivos, afirmou o diretor do serviço judicial de Bruxelas, Glenn Audernaert. Segundo ele, os detidos estavam preparados para novos atentados no país:

- Pessoas vindas da Bélgica participaram de um ou vários atentados no Iraque e outras, presentes no território, estavam mobilizadas - explicou.

Já um porta-voz da polícia negou que os suspeitos sejam da mesma família como divulgado pela imprensa e informou que não há ameaças contra os europeus:

- Sabemos que esses grupos estão sempre planejando ataques, mas podemos dizer que não há atentados planejados na Europa.

Os suspeitos eram investigados há quatro meses, depois que os serviços de inteligência europeus receberam informações de que uma célula terrorista atuava no país. Os dados denunciavam uma rede de ''captação de pessoas com vontade de lutar voluntariamente no Iraque'', segundo o promotor federal Daniel Bernard.

O juiz instrutor do caso, Daniel Fransen, ordenou a intervenção depois que a emissora de rádio RTL França, revelou que uma terrorista que se suicidou no Iraque era de origem belga.

Segundo o jornal belga De Standaard, junto do passaporte havia também documentos que mostravam que ela entrou no Iraque pela Turquia. A terrorista, de 38 anos, foi a única a morrer no atentado contra o comboio militar.

A Bélgica, sede da União Européia (UE) e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), não sofreu ataques terroristas islâmicos. Tem grandes comunidades árabes e muçulmanas e é supostamente usada como abrigo para militantes envolvidos em atentados em outros países.

Na França, um tunisiano também foi preso pela mesma investigação. O detido é suspeito de fazer parte de uma célula muçulmana que recruta voluntários para cometer atentados terroristas no Iraque.

O fluxo de militantes da Europa para o país árabe não é novidade para os serviços de inteligência do continente. Segundo um juiz alemão, ''estima-se em 200 o número de jovens de países europeus em combate no Iraque''. Em maio, a polícia francesa informou que cinco jovens de um só bairro parisiense haviam morrido no Iraque, um deles em um ataque suicida.

A polícia adiantou que não se trata do Grupo Combatente Marroquino Islâmico (GCMI), que assumiu os atentados de 11 de março de 2004, em Madri, matando 191 pessoas.

Nos Estados Unidos, o jornal Los Angeles Times acusou o Pentágono de pagar à imprensa iraquiana para publicar matérias a favor da ocupação, escritas por militares que se passam por jornalistas. A denúncia foi feita no mesmo dia da divulgação pela Casa Branca da ''Estratégia Nacional para a Vitória no Iraque'', como parte de uma campanha para reconquistar a aprovação dos americanos para a guerra.

Em discurso, Bush voltou a afirmar que não estabelecerá prazos para a retirada das tropas enquanto as forças iraquianas não forem capazes de atuarem de forma independente.