Correio Braziliense, n. 21854, 16/01/2023. Política, p. 2
Coronel da PM acusa Exército
O coronel Fábio Augusto Vieira, ex-comandante da Polícia Militar do DF, afirmou, em depoimento prestado à Polícia Federal, que não recebeu ordens para impedir o deslocamento dos bolsonaristas à Esplanada dos Ministérios, ação que antecedeu a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, no último dia 8. Ele ainda revelou que o Exército impediu a polícia de prender golpistas.
Exonerado um dia após os atos e preso na última terça-feira por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, Vieira declarou que o setor de inteligência apontou que não havia indicativo de ações violentas no ato — que já era esperado pelos órgãos de segurança pública. O PM afirmou que, mesmo na escolta policial feita ao longo do trajeto dos bolsonaristas do QG do Exército até a Praça dos Três Poderes “não havia indicativo de desordem ou violência”.
Outro ponto levantado pelo ex-comandante para afirmar não ter responsabilidade quanto à invasão e depredação da Praça dos Três Poderes foi ser comunicado, “apenas na madrugada de sábado”, sobre a chegada de mais ônibus de bolsonaristas a Brasília. “Até então, a inteligência havia identificado poucos veículos, o que corroborava a informação de uma reunião sem indicadores de violência”, diz em depoimento.
Ao saber do maior fluxo de manifestantes na capital, ele disse ter questionado o comando operacional responsável pela ação de monitoramento dos atos e foi informado que “o contingente (de policiais) era suficiente” para manter a ordem.
O policial também apontou erros da segurança na Praça dos Três Poderes: o gradil, cuja montagem é de responsabilidade do Congresso Nacional, estava posicionado de maneira errada, “não havia contingente suficiente da Polícia Legislativa e não havia policiamento suficiente no Planalto, que é de responsabilidade do Exército”.
Durante a invasão, Fábio afirmou ter agido de maneira enérgica e de ter, ele próprio, se envolvido diretamente na contenção dos golpistas. Ele disse que foi “ferido em combate com vândalos” e que entrou “em luta corporal com manifestantes”. Também afirmou que deu ordem para “a detenção de todos”.
O ex-comandante revelou ainda que, após a contenção dos golpistas, o Exército tentou impedir os agentes da Polícia Militar de promover a prisão dos criminosos. A intervenção do Exército não teria sido inédita, de acordo com Fábio: por três vezes, segundo ele, soldados da Força impediram policiais militares de desmobilizar o acampamento bolsonarista instalado em frente ao QG do Setor Militar Urbano. O policial disse que “chegou a mobilizar 500 homens com objetivo de acabar com o acampamento”.