O Globo, n. 32517, 17/08/2022. Política, p. 6

Campanha começa em clima de “guerra santa''

Sérgio Roxo
Bernardo Mello
Luísa Marzullo
Victória Cócolo
Mariana Rosário


O primeiro dia oficial de campanha teve um clima de “guerra santa” entre os dois primeiros colocados nas pesquisas: o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro. O petista rebateu as acusações feitas pelo titular do Palácio do Planalto e seus apoiadores de que pretende fechar igrejas evangélicas, caso eleito. Uma mensagem com esse teor foi divulgada ontem por Bolsonaro em suas redes sociais. O presidente escolheu Juiz de Fora (MG), onde levou uma facada em 2018, como local de abertura de sua campanha. A primeira-dama Michelle Bolsonaro teve destaque no evento e, em uma fala com referências religiosas, citou o atentado contra o marido.

Após ter legitimado a notícia falsa de que igrejas evangélicas serão fechadas caso a esquerda volte a governar o país, o deputado Marco Feliciano (PL-SP), que é pastor da Assembleia de Deus e apoiador de Bolsonaro, emitiu nota oficial em que diz que possível governo Lula perseguiria os templos religiosos por meio da Receita Federal.

A pesquisa Ipec divulgada na segunda-feira mostrou que, se Lula lidera no total do eleitorado, Bolsonaro está bem à frente entre os evangélicos (47% a 29%). O petista, por outro lado, tem o dobro de intenção de votos entre os católicos.

Em ato de abertura de sua campanha na porta da fábrica da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, seu berço político, Lula disse que Bolsonaro mente e manipula a fé dos evangélicos. Em uma fala de pouco mais de 20 minutos, o petista também atacou a postura do adversário durante a pandemia da Covid-19.

— Se tem alguém que é possuído pelo demônio é esse Bolsonaro.

O candidato do PT ainda acusou Bolsonaro de usar a religião para propagar mentiras contra ele e sua família.

— Ele na verdade é um fariseu, está tentando manipular a boa fé de homens e mulheres evangélicos — disse Lula, ressaltando que foi ele quem sancionou alei que cria o Dia Nacional da Marcha Para Jesus.

Em suas redes sociais, Bolsonaro escreveu que era preciso ficar atento, a partir de ontem, porque, segundo ele, “os que amam o vermelho passarão a usar verde e a amarelo, os que perseguiram e defenderam fechar igrejas se julgarão grandes cristãos, os que apoiam e louvam ditaduras socialistas se dirão defensores da democracia”.

Em Juiz de Fora, o presidente deu a dimensão da importância da primeira-dama na corrida presidencial. Michelle apareceu no trio elétrico já durante o discurso de Bolsonaro, e foi muito aplaudida pelo público. O presidente, então, passou a palavra à primeira-dama, a quem descreveu como “a pessoa mais importante nesse momento”.

Ela é uma aposta da campanha tanto para diminuir a rejeição a Bolsonaro entre as mulheres, que são 52,6% do eleitorado, quanto para reforçar a identificação dos evangélicos com ele. Os discursos e posts de Michelle têm sido marcados pelo teor religioso.

— Ao lado de todo grande homem sempre existe uma grande mulher. (...) Em geral, a pessoa mais importante discursa no final. E a pessoa mais importante nesse momento é a senhora Michelle Bolsonaro — disse Bolsonaro.

Em sua fala, a primeira-dama atribuiu, de forma irônica, a facada contra Bolsonaro “àqueles que pregam o amor e pacificação”. O ataque foi cometido por Adélio Bispo, preso em flagrante. Investigações da Polícia Federal apontaram que ele agiu sozinho.

— É uma campanha na qual o povo brasileiro será liberto da mentira e do engano. (...) Peço sabedoria ao povo para que não entregue o país na mão dos nossos inimigos — disse Michelle.

Ciro e a renda mínina

Em terceiro lugar nas pesquisas, o candidato do PDT, Ciro Gomes, utilizou o primeiro evento de campanha eleitoral para explicar seu projeto de renda mínima e pedir votos para a população de Guaianases, localizado no extremo leste da cidade de São Paulo. O ex-ministro prometeu que, no caso de ganhar as eleições, toda família com renda de até R$ 417 receberá uma complementação de até R$1 mil do governo federal.

Já Simone Tebet, do MDB, participou de evento fechado com representantes da cultura na Zona Oeste paulistana. A ideia, disse a senadora, era ouvir as demandas do setor para utilizar como repertório para recriar o Ministério da Cultura, se eleita.