O Globo, n. 32517, 17/08/2022. Política, p. 7
Mourão larga atrás na corrida ao Senado e cola imagem à de Bolsonaro
Daniel Gullino
Fernanda Alves
Um dia após aparecer em terceiro lugar na disputa ao Senado pelo Rio Grande do Sul, o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) deu início ontem à campanha eleitoral tentando vincular sua imagem à do presidente Jair Bolsonaro (PL). A pesquisa Ipec divulgada na segunda-feira mostrou Mourão com 16% das intenções de voto, atrás de Olívio Dutra (PT), com 25%; e Aná Amélia (PSD), com 23%.
Na madrugada de ontem, nas primeiras horas do dia que abriu oficialmente o período de busca por votos, o vice divulgou um vídeo em que o titular do Palácio do Planalto lhe declara apoio. A gravação foi fixada nas contas de Mourão no Instagram e no Twitter, para aparecer antes de todas as postagens.
— Amigos do Rio Grande do Sul. Para um bom governo, nada como termos bons representantes no Senado Federal. E, no Rio Grande do Sul, o meu candidato ao Senado é o general Hamilton Mourão — afirma Bolsonaro na gravação.
No vídeo, Mourão destaca que recebeu uma tarefa presidencial. O Senado foi palco de derrotas e desgastes do atual governo — um dos exemplos é a CPI da Covid.
— Minha gente amiga do Rio Grande do Sul. Essa é a missão que o presidente Bolsonaro me coloca: representar o nosso estado no Senado Federal e, com isso, apoiar as ações do presidente Bolsonaro para mais emprego, mais renda e um Brasil melhor para todos.
Mais tarde, o postulante ao Senado pelo Republicanos publicou um texto para defender os benefícios concedidos pela PEC Eleitoral, sobretudo o destinado aos taxistas. “O auxílio taxista começa a ser pago a partir de hoje. São cerca de 245 mil profissionais que receberão o benefício em todo o país. Serão seis parcelas de R$ 1 mil”, escreveu Mourão. A postagem foi acompanhada com as hashtags #vote100, #MourãoSenador e #ÉaVezDoMourão.
Nas últimas semanas, o vice-presidente passou a divulgar diversos atos do governo, o que não fazia nos primeiros anos da gestão. Na semana passada, ele já havia citado o início do pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600. Recentemente, também fez publicações sobre a queda do preço da gasolina e do diesel.
A estratégia do vice é fisgar os votos bolsonaristas no Rio Grande do Sul, um dos estados em que o presidente tem melhor desempenho. Ele alcançou 35% das intenções de votos, de acordo com o Ipec, contra 40% de Luiz Inácio Lula da Silva. Como a pesquisa tem margem de erro de três pontos percentuais, eles estão empatados tecnicamente. Em 2018, no segundo turno, Bolsonaro obteve 63% dos votos no Rio Grande do Sul.
“Tem que aturar”
Ao longo do governo, os dois protagonizaram diversos embates públicos, o que esgarçou a relação. Prova do distanciamento, o presidente escolheu como vice para concorrer à reeleição o ex-ministro da Defesa general Walter Braga Neto (PL). Entretanto, houve um acordo para o apoio à candidatura de Mourão ao Senado.
Um dos momentos de maior tensão aconteceu após Bolsonaro descobrir pela imprensa que Mourão havia se encontrado com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, um dos seus principais desafetos. Em outro episódio de constrangimento, Bolsonaro disse comparou o vice a um cunhado, que “atrapalha”, mas “tem que aturar”.
O chefe do Executivo reclamava constantemente com aliados sobre a postura do vice, que em determinados momentos comentou assuntos de governo com declarações em sentido oposto ao defendido por Bolsonaro. Em fevereiro, após Mourão afirmar ser contra a invasão da Ucrância pela Rússia, o titular do Planalto o desautorizou :“' Quem fala sobre esse assunto é o presidente. E o presidente chama-se Jair Messias Bolsonaro”, disse.